Desejo não é pecado

“Amor é o desejo irresistível de ser irresistivelmente desejado.” (*Robert Frost)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Nosso reino


Ela, líquida, líquida, líquida, eu, sólido, entre nós delicadamente o tantra fluindo do meu corpo para o corpo dela: “Se você não for casado, eu me casaria com você”, sentíamos através de nossos próprios sentidos uma aliança, uma ligação, um sintoma do encontro  entre duas partículas estelares, finalmente juntos, cintilávamos e em festa nos envolvendo como num abraço de duas luzes infinitas. “Se não for velho, gostaria de envelhecer com você”, na viagem da minha vida muitos descobrimentos, mas até então nenhum encontro, até que ela, esfíngica, surgiu pra ser decifrada. “Se já for velho gostaria de rejuvenescer com você”, nós dois fugitivos, nos encontrando atrevidos, assustados e ao mesmo tempo calmos, um morando nos braços do outro, corajosos, radiantes, valentes, fortes e indestrutíveis. Nós dois, desesperadamente sussurrando palavras de desejo, ousadas, profundas, porque primeiro nos possuímos pelos ouvidos, depois pelas mãos, até nos despirmos tendo a lua como iluminação. Na cidade eu fui condenado à prisão perpétua, ela em seu reino a pena de morte. Nunca mais voltaremos pra lá, mudaremos nossa sorte fundando uma nova nação.
E juntos, no alto daquela fortaleza abandonada de pedras, nos amávamos, eu beijando sua pele, ora carinhosamente, ora faminto, me atrevendo por todos os seus recantos como se eles fossem um território selvagem e desconhecido, cavalgávamos juntos um o corpo do outro, ela sentido meus músculos roçando seus seios, eu sentindo entre os dedos o mel que escorre de seu corpo quente e sedento pela fala, pelo falo, pelo meu poder masculino que tanto lhe fascina.
A cidade distante não sabia que do alto daquela fortaleza em ruínas, estamos ardendo em chamas, quase desmaiados de exaustos, enlouquecidos pela busca do gozo, como se aquele fosse nosso último orgasmo, perdendo os sentidos sem saber se já estávamos mortos ou se ainda permanecíamos vivos. Furiosos como se fossemos ondas fustigando o caís e calmos como se fossemos duas nuvens carregadas de água e de relâmpago, que se encontram para finalmente derramar chuvas sem tempestade. Ela refletida em meus olhos, de tão iguais éramos espelhos,e ela voava, voava, voava e depois caia sem jamais encontrar o chão. Eu ao seu lado subindo e descendo, ela águia e eu o jaguar, ela princesa da lua, eu o príncipe das nuvens, com nossas idéias poderíamos revolucionar o mundo, mudar o destino da cidade que nos condenou e alcançar o paraíso.
Show Me Heaven
Mostre-me o Paraíso
Maria McKee

Lá vai você
Um brilho emocionado em seus olhos
Ei querido, venha para ao meu lado
Feche-os firmemente
Eu não estou negando
Nós estávamos voando acima de tudo
Segurando minha mão, não me deixe cair.
Você tem aquela graça surpreendente
Eu nunca senti dessa maneira
Oh, mostre-me o paraíso, me proteja.
Deixe-me ofegante
Oh, mostre-me o paraíso, querido
Aqui vou eu
Eu estou tremendo apenas como uma brisa
Ei querido, eu preciso da sua mão para me firmar
Eu não estou negando
Estou tão apavorada quanto você
Embora eu mal esteja tocando em você
Eu tenho arrepios em baixo de minha espinha
E isso é divino
Oh, mostre-me o paraíso...
Se você souber como é
Sonhar um sonho
Querido, me segure firmemente.
E deixe acontecer...


sexta-feira, 15 de abril de 2011

Virgem

Quando eu vivia em Sodoma
de uma praia atirei uma garrafa
com uma mensagem assim:

Quem encontrar essas palavras
as trate com carinho
porque elas são de um poeta
a procura de sua musa

E nunca imaginaria que uma  Donzela
a tomaria em suas mãos macias
e com pureza de seu coração
me responderia com loucura:

Poeta me ama como se
não houvesse mais nenhum juízo
Como se fôssemos casar amanhã
Me ama como se eu fosse voce

E o poeta suspirava pelo cais:
Ah poesia maravilhosa poesia
escurece ainda mais essa noite
e deixa ainda mais claro
esse meu dia!

E a virgem continuava me chamando:
Me ama como seu fosse sua graça
me ama como se eu fosse a única Eva
ou como se eu fosse a sua última maça

Assim o poeta foi o primeiro homem
da vida desse mulher
e ao invés de sangrar
Ela chorou

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A princesinha da Lagoa


Ela era uma princesa, não por ser filha de rei ou de rainha, mas por ser tão meiga que suas lágrimas eram doces como o mel. Ela era uma princesa, não porque era bonita e deixava todos os homens loucos por ela, mas porque com seu charme e seu mistério a feminilidade pairava ao seu redor. Ela era uma princesa não por causa das roupas elegantes, mas por dar a sua simplicidade dignidade, decência e encanto. Ela era uma princesa não porque era jovem, mas porque o tempo tinha passado bem para ela, a sua graça ainda estava em seus gestos, ela era princesa não por causa de riqueza ou titulo de nobreza, mas pelo magnetismo que ela exercia em quem a conhecia mais de perto e profundamente.
Um dia essa princesa surgiu lá na lagoa onde eu moro, eu coaxava tranquilamente pra lua, mas notei que ela chorava suas lágrimas adocicadas e que carregava no pescoço um cordão. Esse corrente tinha seis pérolas e ela estava com a sétima em uma das mãos, cada uma daquelas pedras preciosas representavam uma desilusão amorosa.Eu saltei pra mais perto dela e vi o quanto triste e bela era aquela princesa.Naquela noite minha pele verde e meus olhos de sapo deveria estar brilhando.Tanto que ao me ver pertinho dela a princesa me pegou com suas mãos macias.Ficou me acariciando com seus dedos delicados e me olhou bem no fundo dos olhos.Por alguns momentos houve uma comunicação silenciosa entre nós e ela percebeu quem eu era.Um sapo da lagoa que lavava o pé, um sapo-poeta que escrevia seus poemas na superfície da água, um sapo-menino que brincava pulando nas folhas da vitória- régia e um homem-sapo que presenteava suas amadas que flores - de- lótus na esperança delas renascerem todas as manhãs.
E quando ia me beijar, na esperança de eu ser seu príncipe encantado, uma das sapinhas da lagoa que sempre me amou, gritou coaxando e implorando: “Esse é meu!”

P.S.: Minha homenagem ao dia do beijo e a todas as mulheres que são princesas mesmo já sendo rainhas, a todas mulheres que são princesas de dentro pra fora e por isso não importa o que aconteça, jamais perdem sua majestade. Minha homenagem a todos os sapos como eu, que ao se apaixonar por alguma dessas princesas não quer se transformar em príncipe encantado, mas quer que elas é que se transformem em sapinhas como nós!


A Canção Lógica
Supertramp

Quando eu era jovem
Parecia que a vida era tão maravilhosa
Um milagre, oh ela era tão bonita, mágica
E todos os pássaros nas árvores
Estavam cantando tão felizes
Oh alegres, brincalhões, me observando
Mas aí eles me mandaram embora
Para me ensinar a ser sensato
Lógico, oh responsável, prático
E me mostraram um mundo
Onde eu poderia ser muito dependente
Doentio, intelectual, cínico

Tem vezes, quando todo o mundo dorme
Que as questões seguem profundas demais
Para um homem tão simples
Por favor, me diga o que aprendemos
Eu sei que soa absurdo
Mas por favor me diga quem eu sou

Agora cuidado com o que você diz
Ou eles vão te chamar de radical
Um liberal, oh fanático, criminoso
Você não vai assinar seu nome?
Gostaríamos de sentir que você é
Aceitável, respeitável, apresentável, um vegetal!

A noite, quando todo o mundo dorme,
Que as questões seguem tão profundas
Para um homem tão simples
Por favor, me diga o que aprendemos
Eu sei que soa absurdo
Mas por favor me diga quem eu sou