Nota: Conto ficcional, qualquer semelhança com a realidade será mera coincidência… será? Que esse texto tenha o poder de tornar tua realidade em minha imaginação e vice-versa.
Não era de hoje que eu reparava nela, uma mulher inteligente, educadíssima e simpática. Trabalhávamos em setores diferentes, mas vira e mexe a gente se encontrava nos corredores. Sempre discreta, ela não era muito de dar conversa, embora fosse bastante sociável. Todo mundo comentava a respeito dela, alguns até tentaram se aproximar, mas ela dentro do ambiente de trabalho era séria não dava bola pra ninguém. Sua postura profissional era tida como exemplar por toda diretoria. Foi quando tive a oportunidade de conhecê-la melhor porque tínhamos sido destacados para trabalhar juntos na elaboração de um importante relatório. Eu como analista financeiro e ela como coordenadora de processos, passaríamos um mês inteiro trancados numa sala de reunião triando, separando, classificando e analisando caixas e caixas de documentos fiscais e contábeis.Em minha vida profissional nunca tinha passado por aquele experiência de imersão numa única tarefa e ficar ao lado de uma mulher encantadora então, nem imaginava.Parecia ficção.
Foi nesses dias de proximidade que se estabeleceu entre nós uma amizade, mesmo extremamente concentrados conversávamos de vez em quando sobre amenidades, acabamos criando um vínculo além do profissional, algo mais pessoal, onde ela me contou de seus amores e eu dos meus e já estávamos até saindo para almoçar juntos todo dia. Também foi se estabelecendo entre nós uma sinergia profissional, de tal maneira que nosso relatório final superou todas as expectativas. Tanto que fomos designados para fazer o mesmo trabalho numa das filiais da empresa.
No dia que embarcamos no mesmo vôo com destino a Cuiabá o namorado dela foi ao aeroporto para se despedir. Cumprimentamos-nos com rápidos acenos de cabeça, coisa de homem, senti no olhar dele certa insegurança e muito ciúme. Ela já tinha me contado vários detalhes a respeito dele e confesso que por dentro eu ria da cara dele, não por desdém, mas por pena. Cara machista que trocava ela sempre pelos amigos, pelos jogo de futebol ou pela moto que ele idolatrava. Se ele fosse mesmo tudo que ela dizia, ele era um perfeito idiota.Ficamos hospedados no mesmo hotel, no mesmo andar, meu quarto era o 502 e o dela 507. Acontece que na filial ficamos ainda mais próximos, inevitável porque ninguém nos conhecia e havia certa desconfiança com o nosso trabalho que equivalia a uma auditoria.
Foi quando houve um dia que o trabalho deu uma enrolada e avançamos no expediente até depois das oito. Saímos pra jantar e voltamos. Naquela noite ela estava especialmente bonita. Longas tranças, olhos pintados, perfume floral, blusa branca decotada e salto alto. A essa altura eu já estava me apaixonando por ela. Tá certo que era uma paixão light, coisa de homem se apaixonar com cuidado. A toda hora o namorado dela ligava, eles brigavam sem parar, e eu só ria. Estava na cara que aquele relacionamento não funcionava mais, eu já tinha dito isso pra ela e vi em seus olhos a dúvida.Brava, ela se sentou no sofá do lado da longa mesa da sala de reunião e disse bufando:
- Aí! Não agüento mais esse cara chato e esse salto alto que tá me machucando os pés – e tirou aquele par de sapatos brancos revelando seus lindos pezinhos branquinhos e de unhas pintadas de rosa clarinho. Daí eu não conseguia mais me concentrar no trabalho, ela ainda usava uma tornozeleira na perna esquerda singela e dourada com vários pingentes, tentei disfarçar o olhar, mas não consegui me controlar. Primeiro ela ficou vermelha, mas como já éramos íntimos de tanto ficar juntos, teceu inesperadamente uma frase de humor:
-O que foi, eu tô com chulé? – explodimos em risadas, aquela quebrada de gelo revelou um lado dela que eu ainda não conhecia, que ainda não tinha me mostrado por causa de sua rígida postura profissional, um lado mais descontraído e que a deixava ainda mais encantadora. Acabamos nos deixando menos constrangidos com as risadas. Mas a minha vontade mesmo era beijar aqueles pezinhos branquinhos e delicados. E ela tinha dado uma relaxada, se abriu dizendo que estava mesmo de saco cheio do namorado, que não estava mais gostando dele e tal, então depois de quase dois meses juntos, senti que aquela era a oportunidade de investir e fui logo disparando um convite:
- Então sugiro um happyhour , estamos cansados, você de saco cheio e eu entediado dessa sala.
-Será? Putz, olha que eu vou aceitar heim!
- Vamos, eu pago a tequila!
Aquele feito era memorável, não pensei que ela sendo tão séria e tão exemplar toparia algum dia sair comigo. Além do mais tinha o lance dela com o cara, embora isso desde o começo notei que não seria um empecilho, não sei porque nunca botei fé na relação dos dois. E lá fomos nós pela noite estrelada da capital mato-grossense, descobrir a fervente vida noturna cuiabana. Tomamos um taxi e pedimos pra ele nos deixar na rua do “agito”. Acabamos indo parar num night club chamado club garage que tradicionalmente tocava música eletrônica, mas naquela noite excepcionalmente, para a sorte de nossos sagrados gostos musicais, estava tocando o bom e velho rock and roll.
Eu paguei a tequila como havia prometido. Parei logo na quarta, ela foi até a oitava dose. Quando no palco ouviram-se os primeiros acordes de “Eu te amo você”, canção de Marina Lima, vi nascer bem diante dos meus olhos uma mulher encantadora e sexy que eu jamais imaginava morar no corpo da minha colega de trabalho, a sisuda coordenadora de processos deu lugar a uma sensual mulher que cantou pra mim olhando bem no fundo dos meus olhos e encostando a mão direita no meu ombro esquerdo: Acho que não sei não, eu não queria dizer, tô perdendo a razão, quando a gente se vê. E me puxou pelo braço para dançamos na pista pertinho um do outro o resto da música. E na parte que diz: “Eu queria te ver, sentindo esse, lance tirar os pés do chão, típico romance, mas tudo é tão difícil, que era mais fácil tentarmos esquecer e virar só mais uma ilusão nessa madrugada”, o beijo foi inevitável, os braços se abraçaram e as línguas se engancharam, toda aquele “pegação” se acelerou ainda mais durante o refrão: Eu te amo você, já não dá prá esconder, essa paixão.E antes que pudéssemos sentir remorso ou pensar em qualquer arrependimento, nos encostamos na parede num beijo frenético durante o trecho: Mas não quero te ver, me roubando o prazer da solidão...
Graças aTequila, ao calor da noite cuiabana, a bela canção da Marina Lima, ao namorado chato e a irresistível lei da atração, naquele resto de noite não dormi no quarto 502, mas no 507.
Graças aTequila, ao calor da noite cuiabana, a bela canção da Marina Lima, ao namorado chato e a irresistível lei da atração, naquele resto de noite não dormi no quarto 502, mas no 507.
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