O olhar da menina índia não precisa de palavras para ser
compreendido. A filha das selvas tem em sua natureza muito mais civilização do que
os que se dizem urbanos. As verdadeiras feras estão a solta é nas cidades e não
mais nas florestas. O perigo está nas esquinas e não nos igarapés e remansos das
restingas e igapós. O que nos mata não são as ferozes jaguarunas ou as
suçuaranas, sãos automóveis. Aliás, o que nos intoxica mais, a fumaça que sai
dos escapamentos dos carros ou a do cachimbo do pajé?
Hoje quem arma a arapuca não é o índio. E a flecha
envenenada é menos mortal que a bala perdida. E a Oca e a Taba são mais seguras
que a casa, o condomínio ou o apartamento. A nossa sociedade dita evoluída e tecnológica
constrói foguetes que vão à Lua e hidroelétricas que produzem energia. E os
índios só tem flechas, bodoques, lanças ou zarabatanas e nem sequer fundem
metais. Mas apesar de todo esse progresso, quem é mesmo que vive como animais?
Se pensarmos que "evolução" é chegar o mais perto
possível de uma sociedade que tem por objetivo nos tornar todos iguais, então
nós somos um fracasso como civilização, com milhões de pessoas vivendo na
miséria. E os ianomâmis, Ticunas, Caingangues, Xavante e Pataxós são o
auge da nossa evolução.
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