Desejo não é pecado

“Amor é o desejo irresistível de ser irresistivelmente desejado.” (*Robert Frost)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ornella, a pecadora de Roma – Cap. I

“O amor desculpa tudo
ou não desculpa nada.”
Balzac

Eu sei que comigo é diferente porque há uma fusão entre sexo com emoção e amor.É como se eu forjasse nos fornos da minha paixão, alimentados pelo calor do meu desejo e o carinho do meu bem-querer, uma escultura macia da mulher amada.Um monumento perfeito erigido na praça do meu obelisco.
Foi assim com Ornella desde o dia em que a reconheci na minha viagem para Roma.Sim, reconheci, porque ela era muito mais uma lembrança do que uma novidade, mesmo sendo a primeira vez que estava botando meus olhos nela.Havia nela algo de familiar.Não sei se os lhos, a cor da pele, o jeito de mexer nos cabelos ou a forma como andava.No albergue, onde ela trabalhava como la receptionist, eu me apaixonei por ela.No inicio o contato era pouco, apenas dizer boa noite, bom dia, para perguntar onde estava sendo servido “la prima colazione”, pegar as toalhas ou entregar as sujas e receber de volta as roupas lavadas.
Numa noite eu cheguei bêbado e aquele era o turno dela da noite, madrugada, trouxe de volta pro albergue o que tinha restado de mim depois de chorar nas margens do rio as saudades de um amor perdido.Ela abriu a porta sonolenta, mas mesmo assim sorrindo.Notou nos meus olhos um resto de lágrima e inexplicavelmente secou com a mão branca aquele vestigio de tristeza.Aquele gesto de ternura ascendeu em mim uma luz.
Nos dias seguintes que passei naquela cidade procurei por alguém que não existia mais, e foi graças a minha querida amiga portuguesa Ana dos Anjos(queridissima que depois veio me visitar dois anos depois no Brasil) que não me perdi para sempre na Itália.A mão branca de Ornella me trouxe de volta.Nos abraçamos , ali na recepção mesmo.Eu quase não entendendo as palavras dela em italiano e desabafando em português.Ela respondendo um pouco em ingles e eu agradecendo em espanhol.Ela me acalmou, me dando água e mais abraços.Fui para o quarto e dormi apenas algumas horas.Até que todo mundo se levantasse e quase que me carregassem para tomar café.Ornella já não estava mais lá.
Mas tinha me deixado uma mensagem carinhosa, escrita em italiano.Pedi tradução pra outra moça.Ela leu sorrindo e me disse em inglês: “She said: meet me in halfway.I don´t know why,but i like you so much.I want show this city with my arms wide open.Let´s go you and I, free as byrds in the Roma Sky. Call me: 1184-6916-77.”
Liguei, a voz dela no telefone era mais doce que pessoalmente: “Ciao, che parla?”.E eu lutando para que ela me entendesse : “Ricordati di me, andre?”.E ela toda doce do outro lado da linha: “Si, si, como lei  il mio angelo?”
No fundo a lingua italiana não é assim tão diferente da nossa, e eu já sabia de outras épocas, que há uma linguagem universal que idioma algum representa um obstáculo.

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