Desejo não é pecado

“Amor é o desejo irresistível de ser irresistivelmente desejado.” (*Robert Frost)

sábado, 29 de janeiro de 2011

As irmãs


Meu grande medo, meu grande temor, finalmente aconteceu o que eu menos queria. Estou grávida do meu ex-marido.Falou assim a irmã mais velha, apavorada por ter cometido um grave erro.Assim como a irmã mais nova tinha cometido tempos atrás.Não que um filho seja um erro, ele é sempre uma benção, mas a situação, a forma, o momento era. Os rapazes não as queriam para se casar, as queriam apenas para aquilo. E durante muito tempo elas aceitaram essa situação.Agora viviam juntas no mesmo apartamento e dividiam não só o mesmo teto como o mesmo destino.Uma cuidava da outra, ás vezes até competiam, se interessavam pela mesma coisa, até pelos mesmo homens.Mas nada, absolutamente nada prevalecia sobre o amor que sentiam uma pela outra.Juntas as duas sabem que não é preciso seguir os padrões para ser feliz.Juntas compreenderam a capacidade das pessoas em se descobrirem e se recriarem pelo caminho.
A irmã mais velha tem no currículo um curso frustrado de Arquitetura, largou antes de se formar, não foi até o final, nada ela ia até o final , nada.Mas esse filho ela ia ter, ah ia sim.Queria esse filho, queria senti-lo crescendo dentro de si.Mas queria o pai, o ex-marido, longe, bem longe deles, jamais revelaria para o filhe que ainda ia nascer quem era seu pai.A mobília do apartamento era toda do apartamento que a irmã mais nova usou quando morou junto com aquele outro rapaz.Móveis antigos, flores de plástico e anjos barrocos de gesso nas estantes dão um ar kitsch ao lugar.O tapete da porta é rosa, já foi amarelo.Elas adoram cores espalhafatosas. No lugar onde elas moram tudo fica deserto depois da meia-noite, a rua fica cheia apenas de cães famintos, gatos no cio e putas. A mais nova vendeu o carro que tinha, a mais velha divide o dela com a irmã mais nova.
Numa noite a irmã mais velha e a Irma mais nova beberam demais e vomitaram no banheiro. Uma cuidando da outra riam. E concordaram, bêbadas, que estavam as duas cansados de todas os homens do mundo, seus traumas, sua masculinidade babaca, suas vidas complicadas, suas exigências e cabrestos. E no meio de toda aquela risada veio o choro, porque concordavam, ás lágrimas, que estão felizes do jeito que estavam agora, sem um par, donas
de suas próprias vidas. Embora, rindo de novo, dissessem uma para a outra que talvez  não soubessem o que fazer com elas.Mas um pacto foi firmado, elas continuariam juntas, mesmo com nascimento do filho da irmã mais velha.E a irmã mais nova iria trazer o seu filho para morar todo mundo junto.Seriam solteiras por opção, porque elas eram azuis e só as mulheres azuis fazem os homens felizes.
O vestido de noiva da irmã mais velha está no armário da irmã mais nova.A irmã mais velha não quis jogá-lo fora, o álbum de casamento também. Elas vivem usando a mesma roupa, têm quase o mesmo figurino, os pés são do mesmo tamanho. A irmã mais nova tem fixação pelos seus próprios pés, vive fotografando e capricha nos sapatos abertos.Se algum homem gostar de seus pés ganha muitos pontos com ela.A irmã mais velha adora seus seios, mas se pudesse colocaria silicone, para deixá-los ainda maiores e mais atraentes.Gosta do formato e da maneira que eles ornam-lhe o corpo.
 A irmã mais velha pensa no ex-marido, agora também ex-amante, já não cai mais na armadilha que a ensinaram desde criança, príncipes encantados, acreditar que ela vai conseguir mudá-lo, que o cafajeste se tornará um herói romântico, afinal o amor redime a humanidade . Besteira! Ele não valhe nada e nem nunca valerá, ele que morra no meio de suas amantes brejeiras.
A irmã mais nova, apesar de mais nova, descobriu isso bem antes, por dentro ela é quente, quente como um sol de verão, mas que em contato com o mundo se congela e se esvazia de qualquer calor. Esfria, não que ela não seja quente na cama, isso é e muito, criativa, adora experimentar, já andou flertando com mulheres, mas ainda não teve coragem de ir para cama com uma delas.Talvez nem tenha, não é mais nenhuma adolescente.Acha que tudo isso é moda, fala pra si mesma que essa coisa de mulher ficar beijando outra na boca é coisa de revoltadinha, de quem quer chamar atenção, eu sou é hetero! Sou área e etérea! Mas ela não quer mais nada sério com ninguém, só quer diversão, curtir um tempo e depois já era, tchau.
O apartamento delas é incrível, na sala a televisão sempre ligada junto com o equipamento de som, ás vezes rádios, ás vezes CDs ou Mp3.Depois do trabalho ficam lá as duas pralá-pracá, nuas, falando sem parar, fumando e de cabelos molhados e envoltos na toalha em turbante parecendo indianas.O cheiro do perfume delas se mistura pelo ar, a mais velha gosta de perfumes amadeirados, a mais nova dos masculinos mesmo.Enquanto preparam o jantar, as irmãs sentam no computador, lêem emails e noticias, a irmã mais nova fica bastante tempo no celular.Quem tiver intimidades com alguma das duas descobrirá um mapa que as sardas nas  costas delas desenham, aquelas lindas sardas feitas pelo sol de algum praia.
O vizinho do prédio ao lado é um velho tarado, taxista, casado, vive na sacada olhando, olhando, tentando pegar algum lance, tem um binóculo. A senhora dele nem desconfiava.Mas ele é fissurado nas irmãs e elas adoram se exibir pra ele, mas fingem que é tudo sem querer.Ficam se divertindo enquanto desfilam nuas, displicentes, se abaixam, fingem que estão pegando alguma coisa.Um dia elas ainda matam o velho do coração.Aliás a velha dele um dia desses o flagrou em plena masturbação enquanto olhava pra elas.Bateu nele com panela na cabeça.Elas se acabaram de rir na sala.
Quando conheci a irmã mais velha não tive a intenção de me apaixonar, mas bastou uma mera distração e já era.E fiquei como a sensação de que uma lua inteira tinha entrado dentro de mim.Primeiro fomos colegas, depois ficamos amigos.Foi no mesmo dia em que ela me convidou para ir ao seu apartamento e na mesma noite em que conheci também a irmã mais nova.E ela com aquele olhar de nuvem baixa me arrebatou logo de cara.
Ainda bem que tenho dois olhos, com o direito olho para a irmã mais nova e com o da esquerda para a mais velha. Pena eu ter um só coração.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A irmã mais nova


A irmã mais velha e a irmã mais nova quando saem juntas não usam a mesma roupa, isso seria ridículo, mas fazem a mesma trança nos cabelos. Nos bares e boates por onde vão são assediadas pelos caras que ficam fascinados pelo charme e pela semelhança física entre as irmãs.Embora a mais velha, dois anos a mais do que a mais nova, seja um pouco só mais alta.Já a mais nova possui a boca mais carnuda, puxou o pai.Numa dessas saídas um rapaz simpatizou com elas.Com as duas ao mesmo tempo.Elas acharam engraçada e excitante aquela situação e resolveram brincar.Você não agüenta nós duas, nós somos demais pra você! Agüento sim, claro que agüento.Meu sonho é transar com duas mulheres, e com duas irmãs ao mesmo tempo então seria algo fantástico.Os três subiram no carro dele e seguiram para um motel.Elas não combinaram nada, mas aquele instinto fraternal que tinham não precisava de palavras.Assim que ele encostou na garagem do quarto as duas desceram do carro e saíram correndo.O cara ainda tentou alcançá-las, mas por ser um pouco gordo, elas foram muito rápidas e nem deram chance a ele que também era careca.Fizeram uma apoio a outra.A mais nova foi até o topo do muro e puxou  a mais velha.Pularam o muro e saíram rindo, rindo da mesma maneira que faziam quando eram crianças e seus pais ainda estava casados.
A irmã mais nova foi visitar o filho e dessa vez quis levar seu namorado. Na ida foram felizes, uma viagem sempre trás ar fresco a qualquer relação. Chegando lá ela recebeu um afetuoso abraço do filho, ele estava morrendo de saudades dela. A ex-sogra não foi tão cortês, aliás, ela nunca tinha sido, nunca disse, mas dava pra perceber que nunca aprovou o que ela e seu filho tinha feito.O namorado ficou meio deslocado, seu filho ficava olhando pra ele, mas não se aproximava.A verdade era que o rapaz não tinha o menor jeito com crianças.Ela percebeu, mas era melhor deixar isso para mais adiante, queria aproveitar o pouco tempo com o filho.Saíram para passear, foram ao zoológico.A noite o rapaz foi posto para dormir no sofá da casa.Ela dormiu com o filho no quarto, mas no meio da noite se levantou para transar com o namorado.Ele se mostrou meio indiferente.Essa situação não me dá o menor tesão.Essa fala dele a broxou, a deixou extremamente decepcionada.Mesmo assim eles fizeram no escuro e no silencio.Enquanto ele a penetrava ela sentia só ódio e nojo de si mesma.
Na manhã seguinte tomaram café da manhã juntos, ela teve um bom tempo sozinha com o filho. Conversou com ele .Estou preocupada com suas atitudes violentas na escola.Do que você tem raiva? Mamãe te ama e logo volto pra te buscar e você morar junto de mim! Subiram no carro e ela chorava feito criança vendo seu filho se afastar dela nos braços da avó que a odiava. Ao seu lado um homem que parecia insensível  e só queria curtir a vida.Ela não queria tomar uma decisão agora, estava se sentindo muito triste por não poder criar o filho, resolveu se anestesiar ao lado dele.Pararam num bar para tomar vodka.Beberam muito até dormirem sentados na mesa.Acordaram o dono do bar os enxotando.Terminaram de dormir dentro do carro, fazia um calorão e nem mesmo as janelas do carro abertas amenizavam.A irmã mais nova abriu a porta e vomitou muito, parecia que vomitava toneladas, vomitava a raiva da relação ruim que vivia, vomitava o ódio por não ser capaz de cuidar do próprio filho, vomitava a antipatia que sentia pelo trabalho que desempenhava no seu emprego, vomitava a si mesma pelo boca, como se quisesse expulsar de dentro dela o que de ruim tinha.Ela desceu do carro foi lava a boca no banheiro, se olhou no espelho estava péssima, como maquiagem borrada e com a boca sem batom e quase cor.Quando voltou ao carro encontrou o rapaz já acordado fumando um cigarro.Vamos embora, estou cansada, disse pra ele.Não vamos ficar aqui mais um pouco, preciso melhorar mais antes de pegar a estrada.Vem cá me faz um carinho.E ele se deitou no colo dela.Acabaram se beijando e a coisa foi esquentando tanto que transaram ali mesmo.O carro estava estacionado na parte de trás daquele bar de estrada onde caminhoneiros e viajantes de todos os tipos paravam.Ela notou que um caminhoneiro os viu transando e se masturbava na cabine.Aquilo a excitava.Aliás tudo que não era comum a excitava e ela não entendia o porque.
Chegou ao apartamento, domingo de noite, quase madrugada.Nossa você está péssima, nem parece que viu seu filho.Como está aquele moleque lindo.A irmã mais velha pergunta pra mais nova.Depois daquele dia nunca mais ligou pro rapaz que namorava, ele ainda a procurou, mas ela não quis mais saber.Estava na hora de seguir o caminho, das relações casuais e rápidas, da falta de profundidade.
Ela estava novamente de volta a superfície.

A irmã mais velha

Desde a morte dos pais as duas moravam juntas, a pouca herança deixada deu para comprar um apartamento com sacada e dois quartos. O lugar não era o melhor da cidade, mas também não era o pior. A irmã mais velha já tinha sido casada, a mais nova só tinha morado junto uma vez. Os laços sanguíneos que as uniam também serviam para descrever um pouco de suas personalidades e trajetória. Depois de relacionamentos fracassados resolveram se unir e começar uma vida nova.Quem sabe dessa vez dava certo.
A irmã mais velha atualmente era amante do homem com quem já tinha sido casada. Situação esdrúxula, mas que no universo dessas duas era totalmente possível. O casamento naufragou logo, viviam apenas brigando e foi ela quem tomou a iniciativa de se separar. Quando se arrependeu da decisão já era tarde demais. Apenas seis meses depois da separação ele já tinha se casado com outra.Indignada e frágil, e incapaz de superar tal perda, a irmã mais velha propôs ser amante do ex-marido.Este, é claro, aceitou sem pestanejar.
A irmã mais nova já tinha sido mãe, mas seu filho não morava com ela, nem com o pai dele, mas com a avó paterna. Ela sempre vai visitá-lo, mora em outra cidade, distante algumas horas da sua. O garoto tem problemas na escola, comportamento agressivo. Ela faz planos para um dia morarem juntos.A irmã mais nova tem dificuldade de ter relacionamentos sérios, geralmente eles não duram muito tempo.Mas esse ultimo está durando mais do que os outros.Ela não sabe muito bem porque.Resolveu dar uma chance ao rapaz, talvez a si mesma.
O amante da irmã mais velha era cuidadoso, tomava todos os cuidados para a atual esposa jamais descobrir sua relação secreta com a ex-mulher, seria um desastre para os três. Naquela noite ele deu uma desculpa, viagem a negócios de ultima hora, e foi jantar na casa da amante.Chegou mais cedo que o combinado.A irmã mais nova o recebeu.Ele se sentou no sofá para esperar pela irmã mais velha.Não pôde deixar de notar a semelhança física entre elas.Elas são tão parecidas, até o perfume parece semelhante.Pensava ele que disfarçadamente observava a irmã mais nova que perambulava pelo apartamento ocupada com os afazeres domésticos e preparativos do jantar.O formato das pernas na calça leging preta, os seios grandes, o tamanco e os pés de dedos pequenos.O rebolado e a silueta da irmã mais nova de costas eram perfeitamente iguais ao da irmã mais velha.Ele desejou a irmã mais nova.Ela nem percebeu, mas se tivesse percebido, talvez tivesse gostado, mas não que ela era safada ou tivesse coragem de levar isso adiante.
O rapaz com quem a irmã mais nova estava namorando também vinha jantar naquela noite. Chegou quase que ao mesmo tempo em que a irmã mais velha.Todos se cumprimentaram e as duas foram para a cozinha fazer o jantar.Serviram taças de vinho aos rapazes.Estes dois sentados na sala pareciam inconfortáveis com a presença um do outro.Dois estranhos que pareciam, não ter nenhum assunto.Havia um clima estranho entre eles.O ex-marido reparava no outro rapaz.Cara estranho heim, roupa ridicula.Onde já se viu usar chinelos com calça jeans.Por sua vez o namorado da Irmã mais nova reparava no ex-marido.Sujeitinho metido, só porque está de terno fica se achando.Calados ficaram assistindo a novela que passava na televisão.
O jantar foi um sucesso, espaguete ao molho branco e carne assada.Todos comeram de se fartar.A sobremesa, especialidade da irmã mais nova, foi pudim de leite condensado.Sentaram-se na sala, mas só alguns instantes.A segunda garrafa de vinho aberta fez logo seus efeitos e cada casal foi para um quarto.A irmã mais velha fez amor com o ex-marido como nunca.Mas depois entrou numa neura.Porque você a escolheu? Eu faço melhor do que ela? Me diz, me diz se eu não sou melhor do que ela? Isso chateou o ex-marido que quis se levantar e ir embora.Ela então se controlou e pediu desculpas.Eu me descontrolei, sinto ciúmes de você porque não resisto ao seu corpo, ninguém me faz gozar como você me faz. Tenho medo de te perder pra sempre.
A irmã mais velha sofria demais, não se perdoava por não ter agüentado a situação do casamento deles que durou um pouco mais que dois anos.Ainda o amava muito, mas o ex-marido não tinha só ela de amante, além da esposa tinha outras também e não escondia isso dela.Essa humilhação ao mesmo tempo que a jogava para baixo também a satisfazia, uma estranha obsessão e um estranho prazer, o sofrimento daquela relação incerta, perigosa e arriscada parecia preencher sua vida.O ex-marido fazia o queria dela, aparecia raramente, várias vezes a deixava esperando.Ela fantasiava que algum dia ele deixaria a atual esposa para ficar com ela.Sabia que isso era quase impossível, mas se satisfazia apenas sonhando.
Para celebrar aquela fase de sua vida tatuou em suas costas um desenho grande de uma sereia. Metade do corpo, mulher, o outro peixe. Uma sereia mortal como aquela da lenda que canta e atrai os navegantes para depois devorá-los. A Irmã mais nova também fez uma tatuagem. Uma deusa maia.
A irmã mais velha sentia falta da mãe, era a que mais parecia com ela. Guardava num baú todos os vestígios que em vida ela tinha deixado.O que mais gostava era um pente que ela usava e que ainda tinha seus os cabelos presos.A escova de dentes, uma bíblia e algumas cartas em que ela reclamava do que o marido fez com ela.O pai delas abandonou a mãe quando elas ainda eram crianças.A mãe as criou sozinhas.Ele se casou muitas outras vezes e sempre com mulheres mais jovens do que ele.A mãe nunca o perdoou e falava sempre muito mal do pai para elas.
A irmã mais velha luta para se livrar do estigma de mal amada, não quer mais se encontrar com o ex-marido, não é mais mulher de migalhas, de sobras, gostaria de se envolver com outro cara. Quem sabe alguém parecido com o rapaz que a irmã mais nova namora, que, aliás, pensa ela, é uma gracinha.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O prazer é algo natural


Sexo é saúde, é saudável, é natural, faz bem ao ego, a pele e a autoestima. Não é algo sujo, ordinário ou compulsivo. Por medo e por não se conhecer, o ser humano inventou uma serie de restrições, inventou códigos morais, de repressões e a religião tratou de demonizar o desejo e o sexo. Um ato carinhoso ou carnal como esses entre duas pessoas que se sentem atraídas e o praticam de forma consensual, tem que ser tratado com respeito, o prazer existe para nos satisfazer, não para nos condenar.
É claro que é preciso controlar nossos ímpetos, caso contrário não trabalharíamos e ficaríamos o tempo todo só em função do prazer, mas não é mais necessário transformar o sexo em pecado, a infância do ser humano acabou. Acredito que o exercício pleno de nossas sexualidades é um marco civilizatório e espiritual da humanidade e não ao contrário como quer a religião. A dimensão mais humana de um homem ou de uma mulher é o seu desejo. É aquilo que o torna forte e frágil ao mesmo tempo. E não conheço nada mais humano do que essa incrível contradição.
Da mesma maneira em que fascina, a mulher assusta ao homem. Sua sexualidade é tão poderosa que poderia fazê-lo em pedacinhos. Desde a antiguidade isso é sabido, por isso foram criados os cintos de castidade e as burcas.  Por isso a mulher que tem o poder de sedução e que pode controlar qualquer homem era chamada de bruxa e queimada em fogueiras. Não é uma mera coincidência que as fronteiras da sexualidade humana só começaram a serem vencidas quando da revolução sexual promovida pelas mulheres.
O sexo é um jogo que nos envolve totalmente, ancestral e misterioso, que existe muito antes de nos conhecermos como “gente”. São olhares, sorrisos, cheiros, gestos, comportamentos, tom de voz, palavras, toques, movimentação, são sinais, e são todos os sentidos voltados única e exclusivamente para a sedução. O sexo é o desenvolvimento mais completo de todas as nossas potencialidades, nossos cinco sentidos se inebriam, nosso corpo passa a agir de modo diferente, tem reações involuntárias, nossas pupilas dilatam, nossa voz fica um tom mais baixo(no caso das mulheres)ou um tom mais alto(no caso dos homens), quase sussurrante, ou quase gritada, nosso aparelho respiratório se expande, nosso coração bombeia sangue com mais rapidez, mudando todo o seu funcionamento, nosso cheiro, nossa percepção de realidade, nossas atitudes, tudo aumenta, fica maior e por isso nos amplia também.
Sexo é saúde e o prazer é algo natural, é preciso praticá-lo com responsabilidade e com consciência e se assim for feito será para sempre uma fonte de satisfação, de autoconhecimento, de carinho e de amor. Nossas afetividades não devem ser vista como uma vergonha, mas como um orgulho.
Por isso seja feliz e goze.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Ombro amigo


Ela estava num daqueles dias, ninguém parecia a entender, nada parecia ser capaz de aliviar sua tensão.Tinha brigado com o marido por coisas bobas.Aliás ela e o marido não viviam bem já fazia é muito tempo.Tudo era motivo para brigas e desavenças. Depois de alguns anos de casamento o desgaste da relação já era muito claro e em alguns dias chegava a ser insuportável tanto pra ela como para ele. Tentou se queixar para os filhos, mas eles não davam atenção a uma só palavra. A filha mais velha estava chateada com o namorado que não ligada, o do meio estava sempre jogando videogame sem parar e o mais novo era o mais novo e não entenderia nada.Sentiu que estava sozinha.Pensou em ligar para alguma amiga, mas a maioria de suas amigas só falariam de si mesma e também não a escutariam.Lembrou-se de um amigo, de um grande amigo da faculdade.Tanto tempo que eles não se falavam.Será que ele vai atender? Será que ainda se lembrará de mim? Resolveu arriscar mesmo assim, o máximo que aconteceria seria ele não atender a ligação.
E o velho amigo atendeu ao telefone numa boa, mostrou-se surpreso com a chamada e foi super gentil. Mesmo depois de tanto tempo sem se falarem pareciam que tinha sido ontem a ultima ligação.Só pelo seu tom de voz percebo que está chateada, o que aconteceu, linda? A maneira de ele ser doce continuava igual.Ficaram se falando horas e em nenhum momento ela falou sobre o marido ou as crianças.Ele então a chamou para ir pra casa dele. Ela ficou pensando, mas resolveu aceitar mesmo correndo riscos. Aquela situação a deixava instigada. Estava se sentindo reprimida demais nos últimos tempos e uma escapada da sua rotina lhe a faria muito bem.Seria uma ótima oportunidade para relaxar um pouco. Mas apesar da excitação, e aquele sentimento de perigo, não passava por sua cabeça que rolaria nada demais, seria só uma conversa na casa de um amigo das antigas.
O marido saiu para jogar futebol naquele sábado, os filhos estavam todos ocupados, a mais velha saiu com o namorado,  o do meio foi jogar videogame na casa do amigo e o mais novo foi para casa dos avós.Esse era o momento exato. Chegando lá, recebeu um caloroso abraço dele, foi tão gostoso que ela não tinha mais vontade de soltar, nem sabia que estava tão carente. Começaram a conversar, como era agradável poder falar sem críticas e censuras, tomaram vinho, as janelas abertas deixavam entrar uma gostosa brisa, foi se sentindo solta, livre, falou de si, das suas frustrações e ele também contou suas histórias,  reclamam bastante e riram gostosamente dos insucessos e dos infortúnios da vida.Ele pegou na mão dela, ela sentiu um arrepio.Não conseguiu disfarçar que gostou daquele contato, eles tinha sido amigos e nunca tinha rolado nada demais entre eles, apenas brincadeiras que nunca se concretizavam.
Ele reparou que ela ficou desconsertada, fiquei nervosa com sua mão na minha mão, disse sorrindo, depois dessa revelação não demorou muito para estar um nos braços do outro e quando perceberam, já estavam nus. Você se lembra daquela história da faculdade do Vick e do halls preto ? Era uma velha brincadeira que a turma contava. E então experimentaram um no outro e querendo mostrar sua melhor performance extravasaram toda energia acumulada, Um entrava no outro com tanta intimidade e sincronia que parecia que estavam casados há muito tempo.
Ela finalmente conseguiu aliviar sua tensão, gozou múltiplas vezes. Ele finalmente realizou o desejo que tinha, foi louco por ela nos tempos da faculdade, imaginava que depois que ela tivesse casado nunca mais teria uma oportunidade. Quando caiu em si a primeira reação dela foi de susto. Mas não se arrependeu.
Agora toda vez que briga com o marido não só procura o ombro do amigo, mas seu corpo todo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Intimamente


Por mais que você tente disfarçar tudo em você quer se revelar.E eu reparo em você, em cada detalhe, em todas as nuances e meandros, em todas as curvas e inflexões.Só pelo tom da sua voz já sei se está triste ou se está eufórica, pelo sapatos que usa ou pelas cores do vestido.Não me pergunte porquê e nem como, mas eu sei como você se sente por dentro pelo o que vejo por fora, a cor das suas unhas ou se elas estão roídas ou não.Você as come porque quer diminuir sua agressividade, quer ser mais calma, não quer arranhar.
O seu perfume, aquele adocicado, desperta em mim um instinto de macho, uma vontade louca de rasgar a sua roupa, de te encurralar na parede do corredor, de te prender com força entre meus braços, de mostrar pra você quem manda.Mas isso é intimamente, meu pudor, sua religião, minha educação, sua timidez, meu respeito, seu embaraço e minha criação me impedem de demonstrar ou de realizar.Fica só na imaginação.
Por mais que você tente esconder eu reparo, reparo nos seus gostos, no que você gosta de comer e do que não gosta, do que lê, do que fala e do que não fala, tudo é indicio, tudo é pista, tudo é um fascínio. Os brincos, os colares, as pulseiras, os pés, não me pergunte porque, mas sei quase tudo sobre você pelo o que vejo e pelo o que imagino.Imagino o tamanho dos bicos, a cor da auréola, a quantidade de pelos, todos os desenhos, cheiros e gostos que as suas roupas escondem.Ma isso é intimamente, é segredo, eu não te diria pessoalmente, mas percebo que quanto mais você evita, mas quer mostrar, o desejo humano é sempre contraintuitivo, ele subverte nossas leis, nossas regras, nossos pudores , por mais que tentamos dissimular o que queremos, ele faz de nós seus atores, quando percebemos já estamos envolvidos, entrelaçados e grudados, de pé ou deitados.


ME REVELAR 
(Zélia Duncan)
  
Tudo aqui quer me revelar.Minha letra, minha roupa, meu paladar.O que eu não digo, o que eu afirmo, onde eu gosto de ficar.Quando amanheço, quando me esqueço, quando morro de medo do mar...
Tudo aqui! Quer me revelar, unhas roídas, ausências, visitas, cores na sala de estar...O que eu procuro, o que eu rejeito, o que eu nunca vou recusar.Tudo em mim quer me revelar...Tudo em mim quer me revelar, meu grito, meu beijo, meu jeito de desejar.O que me preocupa o que me ajuda e o que eu escolho prá amar.Quando amanheço, quando me esqueço, quando morro de medo do mar.Ah! Ah!...Tudo aqui quer me revelar


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tire meu fôlego

Jonas tem esse dom, o de transformar qualquer moça em musa, o de “monalisar”  a mulher objeto de sua paixão,como se amar fosse um ato de pintura, e sentir fosse um fato de escultura, porque afinal para ele em qualquer parte, todo amor é uma obra de arte. Porque para os românticos tudo aquilo que não existe para permitir que se ame, deve ser inventado.
E não poderia ter sido diferente a relação dele com Alice, porque começou parecida a uma amizade, embora sempre tivessem deixado muito claro que havia um desejo bem entranhado em suas gentilezas. A ele nunca importou receber a alcunha de “garanhão” perante os outros homens. Muito pelo contrário, a sua discrição sempre o fez um Don Juan silencioso, de segredos apenas conhecidos pelas mulheres que com ele partilharam o prazer.
A vontade de Jonas era mesmo que Alice nunca encontrasse noutro homem a capacidade que ele tinha de fazê-la feliz em qualquer posição e em poucos minutos. Sempre se importou muito mais com o prazer delas que com o dele próprio. A sua satisfação sempre foi atendida dessa maneira. O gozo dela era o gozo dele também. Por isso memorizou o mapa de seu corpo e a languidez de seus recantos. Alice era branca como a luz do luar em noite quente.
Conheceu-a ali, enquanto caminhava pela orla vislumbrando as águas cálidas e esverdeadas da baia, ela caminhava num daqueles vestidos de verão coloridos e longos, sandálias rasteiras nos pés e olhar distante. Ele de bermudas, descalço pisando na areia e sem camisa. O primeiro olhar já disse tudo pra ele. Ficou interessado na moça pela forma como seus cabelos balançavam. O perfume do banho que ela tinha tomado chegou a seu nariz, invadiu seus pulmões. Chegou mais perto e puxou conversa. Disse qualquer coisa sobre o calor e a brisa que soprava do mar.Ela sorriu, disse qualquer coisa que sim e outra coisa que não.Conversaram mais, tomaram sorvete, comeram pastel.Sentaram num banco, sorriram bastante um pro outro, falaram mais sobre o calor, o trabalho, a lua, o aquecimento global, as conchas.Depois se despediram.
Mas tornaram a se encontrar no dia seguinte quando tudo era uma mistura de acanhamento, medo e fascinação. Um jogo delicioso de avanços e recuos. Quando a sedução se inicia já não é mais possível retornar. Alice fez charme, Jonas afagou seus cabelos e tocou de leve sua face que ruborizada a entregou para seus braços. O primeiro beijo foi como uma explosão, depois foi suave depois voltou a ser explosão de novo. Ela segurou firme nas costas dele e ele queria tocar as pontas dos seios dela a qualquer custo. Não fizeram amor naquela noite, mas tudo mostrava que aconteceria outro dia.
Começaram a sair juntos para bares e toda vez quando a levava pra casa, antes dela entrar ficavam se beijando, se beijando muito dentro do carro até embaçar os vidros e os dois ficarem banhados de suor.Ela pulava pro banco do motorista, se jogava em cima dele, ficavam se roçando como se tivessem voltado a adolescência.Era um desejo ávido e ao mesmo tempo dócil.Alice beijava Jonas como se quisesse tirar-lhe o fôlego.Jonas gostava dessa falta de ar.Olhava para ela como se quisesse engolir a ostra escondida dentro de uma concha dourada.Fizeram amor só uma vez, foi quando Jonas exercitou sua necessidade de ser manso ou feroz, doce ou atroz.Alice gozou três vezes.Jonas não gozou nenhuma, não dentro dela, mas só fora.
Depois disso Alice achou que eles não tinham nada haver um com o outro e foi embora.

Outros olhos e armadilhas

Alice não é anjo, nem demônio, é mulher. Anda apaixonada pelo Fabrício, mas ele anda fascinado por uma  poetazinha que resolveu seduzi-lo.- Coisa ridícula - ela pensa, mas isso a afetou de verdade.Morreu um pouco com essa decepção, mas é necessário nascer de novo.Pensa em Marcos seu antigo namorado.Fica se olhando nua no espelho, procurando rugas, espinhas, adorando sua bunda, mas gosta mesmo é de admirar seus seios, principalmente os bicos.Vive trancada no quarto, em sua casa cada um tem seu mundo, seus pais moram no sobrado dos fundos.O Irmão também vive trancado no quarto, usa drogas, não gosta de trabalhar e namora uma garota que mora longe, pouco dá bola pra moça que vive ligando pra ele choramingando sua atenção.Mas apesar desse distanciamento são uma família feliz, que fala alto nos almoços e nos jantares.O pai é brincalhão, gosta de beber cerveja.A mãe é aposentada do banco, virou dona de casa e por isso tem mania de limpeza.
Apesar de charmosa e inteligente Alice não tem muita sorte com homens. Fabrício é muito diferente dela, Marcos era mais igual. Mas com Fabrício tinha mais futuro, com Marcos, menos. Não é tão dengosa, mas também não chega ser amarga, Alice não é nenhuma “mulherzinha”, por isso ás vezes se acha masculinizada. Sua cadelinha vive entrando e saindo de seu quarto. Pensa num futuro feliz fora de sua casca.Conversa sozinha - A atual namorada do Marcos é linda, loira, alta.E aquela poetazinha de meia tigela acha que vai roubar o Fabrício de mim, tá muito enganada, não sei fazer versos, mas sou boa de cama!
Alice adora ler livros técnicos. Pensa em Pedro. Um amigo com quem se permitiu transar.Gozou três vezes, assim como gozou com o Jonas, outro “amigo”. A cadelinha entra latindo no quarto, seu irmão numa rara aparição parece chapado. Fuma maconha escondido no telhado, o pai e a mãe fingem que não sabem.Chamam sempre ela para ir a missa, mas ela não gosta, vai ás vezes só para agradar.Pensa na escolinha onde trabalha e nas necessidades especiais dos alunos – É estressante  trabalhar lá, adoro aquelas crianças, mas a minha chefe é um saco, um porre mesmo, vive reclamando da vida, do marido, deve ser mal amada, não devem transar gostoso, igual fiz com o Fabrício ontem, na beira da piscina na casa dele.Duvido que ele lembrou da poetazinha naquela hora.
Alice teve uns probleminhas de saúde, sente dores nas costas, faz ginástica  para se cuidar, faz regime, quer ficar mais bonita, mais atraente, nesses seus vinte e muitos anos, quase trinta.Adora os pais, mais fala pouco com eles, na verdade tem uma grande dificuldade de se expressar.Foi noiva, quase casou, mas Marcos não tava muito afim. Amam-se, mas não conseguiam ser felizes, ele vivia sumindo, metido com política, com um político sujo da cidade. E com certeza tinha outras.A cadelinha entra latindo no quarto.O irmão passa falando no telefone com a namorada, a despreza, parece que sente prazer em vê-la sofrendo. Pensa no Fabrício: - Adoro aquele cara, somos tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais.
Pensa na poetazinha – Aquela idiota, meio gordinha, quer roubar meu amor, mas eu sei que ela não consegue. Alice se deita no travesseiro, olha para o teto e pensa no que vai fazer essa noite.Pensa em ligar para Fabrício, mas desiste.