Desejo não é pecado

“Amor é o desejo irresistível de ser irresistivelmente desejado.” (*Robert Frost)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Intimamente


Por mais que você tente disfarçar tudo em você quer se revelar.E eu reparo em você, em cada detalhe, em todas as nuances e meandros, em todas as curvas e inflexões.Só pelo tom da sua voz já sei se está triste ou se está eufórica, pelo sapatos que usa ou pelas cores do vestido.Não me pergunte porquê e nem como, mas eu sei como você se sente por dentro pelo o que vejo por fora, a cor das suas unhas ou se elas estão roídas ou não.Você as come porque quer diminuir sua agressividade, quer ser mais calma, não quer arranhar.
O seu perfume, aquele adocicado, desperta em mim um instinto de macho, uma vontade louca de rasgar a sua roupa, de te encurralar na parede do corredor, de te prender com força entre meus braços, de mostrar pra você quem manda.Mas isso é intimamente, meu pudor, sua religião, minha educação, sua timidez, meu respeito, seu embaraço e minha criação me impedem de demonstrar ou de realizar.Fica só na imaginação.
Por mais que você tente esconder eu reparo, reparo nos seus gostos, no que você gosta de comer e do que não gosta, do que lê, do que fala e do que não fala, tudo é indicio, tudo é pista, tudo é um fascínio. Os brincos, os colares, as pulseiras, os pés, não me pergunte porque, mas sei quase tudo sobre você pelo o que vejo e pelo o que imagino.Imagino o tamanho dos bicos, a cor da auréola, a quantidade de pelos, todos os desenhos, cheiros e gostos que as suas roupas escondem.Ma isso é intimamente, é segredo, eu não te diria pessoalmente, mas percebo que quanto mais você evita, mas quer mostrar, o desejo humano é sempre contraintuitivo, ele subverte nossas leis, nossas regras, nossos pudores , por mais que tentamos dissimular o que queremos, ele faz de nós seus atores, quando percebemos já estamos envolvidos, entrelaçados e grudados, de pé ou deitados.


ME REVELAR 
(Zélia Duncan)
  
Tudo aqui quer me revelar.Minha letra, minha roupa, meu paladar.O que eu não digo, o que eu afirmo, onde eu gosto de ficar.Quando amanheço, quando me esqueço, quando morro de medo do mar...
Tudo aqui! Quer me revelar, unhas roídas, ausências, visitas, cores na sala de estar...O que eu procuro, o que eu rejeito, o que eu nunca vou recusar.Tudo em mim quer me revelar...Tudo em mim quer me revelar, meu grito, meu beijo, meu jeito de desejar.O que me preocupa o que me ajuda e o que eu escolho prá amar.Quando amanheço, quando me esqueço, quando morro de medo do mar.Ah! Ah!...Tudo aqui quer me revelar


2 comentários:

Norma de Souza Lopes disse...

Amei a licença poética com a letra da Zélia. Ficou muito bom. Me deu vontade de fazer isso com umas da Paula Toller.
Abraços
Norma

S.C disse...

Muito, muito bom André.