Desejo não é pecado

“Amor é o desejo irresistível de ser irresistivelmente desejado.” (*Robert Frost)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Olhos verdes, olhar azul



Eu me apaixonei por você
Mas não pelos mesmos motivos
Que todo mundo se apaixona por alguém
Comigo foi mais profundo, muito mais além

Ainda quando nem sabia ao certo
Dos meus sentimentos por estes teus olhos
De cílios de harpa e essa boca de rubi
E eu quase Orfeu, rabisquei um poema
Que assim escrevi:

Que gostava de voar eu sempre soube
Mas como quis sair do chão
Depois que você surgiu em minha vida
Já sabia que meu ponto fraco era o coração
Mas depois de seu aparecimento
Ele bateu muito mais forte

Poeta quase sempre morre do coração
Não porque ele ficou cansado   
Mas porque bateu demais

Eu me apaixonei por essa mulher
Que pétala por pétala bem-me-quer
Cuja beleza rara dá sentido e direção
Ao meu desejo de estar rente
Num acordo intimo de ternura e paixão
De estar me confundindo com ela
Através da vida, pelos sonhos
Como uma fotografia no porta-retratos
Que se renova todos os dias

E quem sabe um dia desses
Você sopre minhas asas pra eu sair do chão
E eu sopre as suas para que elas te alcem
Um vôo direto em minha infinita direção

Leoa





























Quando fugi da minha jaula
Conheci uma mulher misteriosa
Toda cheia de capricho
Fiquei louco na mesma hora
Senti um profundo calafrio
Como um desejo de bicho
Por aquela fêmea lânguida no cio

E então livres e soltos
Como foi louca a nossa história
Com suas garras me lanhou
Me mordeu, me dominou
E de tanta garra e caricia plena
Ainda trago as marcas frescas
No corpo e na minha memória

Logo eu que achava que Leoa
Mulher-fera, fêmea-selvagem
Só se encontrava lá na savana africana
Mas foi surpreendido pela Menina- Felina
Rugindo alto e forte na minha cama

E nessa batalha selvagem,
Não se sabe quem venceu
Se a foi leoa no cio
Ou o homem que a mereceu!

Encontro


Ela rodeada de encantos
Ele cheio de seduções
Ela perfumada como uma rosa
Ele sensual como um toureiro

Ela justa como um vestido
Ele firme como uma calça
Ela desejosa como uma boca
Ele faminto como uma mordida

Ela apaixonada como uma menina
Ele louco por ela feito um garoto
Ela nua como uma lua
Ele despido como um sol

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pequenos lábios


Nota: Texto ficcional com conteúdo erótico, portanto se o leitor for menor de idade ou não gostar de tal gênero, delete imediatamente a mensagem e não leia nada do que vier a seguir.O titulo do texto refere-se a anatomia do órgão sexual feminino, a vulva, especialmente aos lábios vaginais que são compostos de pequenos e grandes lábios.A semelhança com terminologia usada para a boca humana inspira esse texto. Os lábios vaginais têm forma, textura e coloração parecidos com a boca. Os lábios das “bocas” da mulher agem em uníssono quando vem a excitação: ficam mais túrgidos, mais rubros e mais sensíveis.

Eu era freqüentador habitué da biblioteca da universidade, além dos livros de economia, cálculo e comércio exterior que usava para elaborar trabalhos e seminários, estavam entre minhas leituras preferidas livros de literatura nacional e internacional.Minha carteirinha dava direito a só 5 livros por semana, mas com o tempo e um pouco de conversa consegui flexibilizar minha cota para sete.Porém, para tanto, foi necessária uma estratégia de negociação. Geralmente as bibliotecárias que trabalhavam no prédio 11 da biblioteca eram mulheres já bem maduras e pouco sensuais. Uma pena porque a maturidade de corpos femininos sempre me atraiu, talvez algo edipiano, talvez um fetiche, de qualquer maneira nunca deixei de me sentir atraído por alguém com mais experiência do que eu.Mas definitivamente as bibliotecárias do prédio 11 eram ranzinzas demais para provocar qualquer tipo de desejo.
Entretanto, numa sexta-feira havia uma bibliotecária nova, uma que nunca tinha visto antes. Uma jovem moça que usava óculos de armação azul, tinha um ar de intelectual e ao mesmo tempo de simpatia. Depois de reparar nela fiquei entretido em minhas leituras até as dez e meia e nem percebi que eu era o único que ainda estava lá na biblioteca. A moça chegou pertinho de mim, estava recolhendo os livros. Meu instinto masculino farejou seu perfume. O cheiro de uma mulher diz muito sobre sua personalidade. Ela estava provavelmente usando um Dolce & Gabbana, Light Blue feminino, de notas floral/frutal,  a intensidade do jasmim e o encanto da rosa branca, fundindo-se  as madeiras cítricas, ao âmbar e à delicada carícia do almíscar.Tudo isso significa que ela era do tipo sexy, mas que por postura estava sendo discreta no ambiente de trabalho.Mas já tinha disparado em mim o processo de desejo.
- Eu já estou indo embora viu, não quero te atrasar, imagino que você está louca para sair voando daqui nessa sexta-feira.
- Imagina esse é meu trabalho, costumo ficar aqui até ás onze. – a moça tinha um sorriso lindo, usei a estratégia de puxar papo sendo gentil, isso sempre funciona, a abordagem masculina é um calcanhar de Aquiles no jogo da sedução, a maioria dos caras sempre erra o tom na hora de se aproximar de uma mulher.Acaba assustando mais do que aproximando.
- Venho sempre a biblioteca e por isso não pude deixar de notar que voce é nova aqui.
- É verdade eu sou estagiária, estou a pouco tempo trabalhando nesse prédio – Nesse momento eu já estava com alguns livros na mão e pude reparar ainda mais na moça.A abordagem prossegui agora tentando adquirir informações e usando um tom de maior intimidade.
- Também não pude deixar de notar a sua simpatia em contraste com a sisudez das outras bibliotecárias, é até agradável vir aqui estudar- Ganhei um largo sorriso e bochechas vermelhas. A bochecha parece ser a parte mais suave de todo o corpo feminino, uma mulher que cora diante de um comentário é charmoso,  tem consciência de sua sexualidade, mas ainda preserva uma certa pureza juvenil.
Consegui que de certa maneira ela entrasse na minha. Numa rápida conversa é possível se saber muita coisa de alguém. Em cinco minutos eu já sabia que ela era solteira e que voltava pra casa de ônibus, pois morava com os pais na zona sul.Antes de oferecer uma carona resolvi alongar nossa conversa.
- Estou te atrapalhando? Não quero te atrapalhar heim.
- Não, não imagina, estou adorando conversar com você, não conheço ninguém por aqui, por isso é tão bom fazer uma amizade – pronto, já tinha conseguido o que eu queria.Esperei ela fechar a biblioteca e ofereci carona.Ela primeiro recusou, mas não demorou muito acabou aceitando.
Ao sair de seu ambiente de trabalho pude notar que ela se transformou um pouco, ficou mais solta, trocou de roupa no vestiário e isso mudou bastante sua aparência, um decote em sua blusa revelava o que o perfume já tinha me sinalizado, havia uma jovem sexy mulher ali. As meias-esferas de seus seios reveladas davam idéia, reparei em suas pernas longas, um homem quando olha para as pernas de uma mulher não consegue evitar imaginar o vértice, o ponto em que elas se encontram, seus pares de pernas funcionam como uma flecha que indica a “terra prometida”. O trânsito ajudou dessa vez, fez com que o caminho fosse mais longo, a conversa fluía. Ela usava um salto alto branco, unhas bem pintadas em pés delicados. O meu fascínio por ela estava em seu ápice, sentado ao meu lado no banco do carona eu mal conseguia me controlar em querer tocar seus joelhos quando mudava de marcha.
Chegamos à porta de seu prédio, ela me deu um abraço apertado, agradeceu...mas para mostrar minha intenção , que estava muito além da gentileza ou do favor, apertei ela mais forte ainda durante o abraço e deixei que percebesse que inspirei profundamente seu perfume que estava impregnado ao seu pescoço. Ao final do abraço ela deu um sorriso encabulado, havia percebido meu sinal não-verbal que havia uma atração. Eu por minha vez reconheci em seus sinais um consentimento, uma possibilidade de envolvimento e sem pensar muito beijei sua boca.
No inicio o beijo foi tímido, lento e suave, mas passados alguns segundos houve uma aceleração, ao toque das línguas senti a excitação explodir em mim e remexer nela. Sua boca pequena de lábios úmidos guardava aquele mistério então revelado na troca de salivas e carinhos quentes.
- Melhor pararmos por aqui, não me sinto a vontade em fazer isso na frente do meu prédio. – A moça possuía aquilo que mais me fascina numa mulher, o misto de prudência e ousadia. Aceitei imediatamente sua condição elogiando seu beijo, seu perfume, trocamos os números de telefones e ela desceu do carro sorrindo bastante. E eu que já era assíduo freqüentador da biblioteca troquei os bares pelas estantes e mesas. O que foi bom pra mim em dois aspectos. O primeiro intelectual, conseguia emprestar mais livros e por isso ler mais e o segundo sexual porque estava fazendo amor com freqüência com uma bela mulher.
Depois daquele dia as caronas não tiveram mais como único destino a porta do prédio da moça, e foi nas alcovas dos motéis paulistanos que conheci os outros lábios dela, seus pequenos lábios vaginais desenvolvidos e macios.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Tranças


Nota: Trata-se de um conto, porém como já é sabido que a interpretação de texto não é lá muito o forte do brasileiro, fato comprovado por pesquisas da área educacional, é sempre bom lembrar que ficção pode ou ser somente pura ficção ou pode levar um pouco de imaginação misturada à realidade. Eu sempre gosto da segunda opção quando não há fronteiras entre o sonho e a verdade, quando não se sabe onde começa a realidade e onde termina a ficção. O verdadeiro significado estará sempre nas entrelinhas. Boa leitura.

Apesar de ter quase sete bilhões de habitantes e uma superfície de aproximadamente 510 milhões de quilômetros quadrados,  quando encontramos alguém por acaso, o mundo parece um lugar pequeno. Distraído, porque estou sempre perdido em meus pensamentos, não notei que a pessoa atrás de mim da fila era uma velha conhecida. Foi ela me perguntar às horas e nossos olhos se cruzarem que nos lembramos que nossos rostos eram familiares.
- Eu te conheço de algum lugar!
- Eu também estou com essa mesma sensação
- Ah já sei! Foi da universidade! – A moça tinha um ar de alegria por ter encontrado alguém daqueles velhos e bons tempos.
- É verdade, fizemos algumas matérias juntos, eu estou me lembrando agora, estávamos até no mesmo grupo de estudo sobre Economia Chinesa. – Além de ter me lembrado do grupo de trabalho, me lembrei também que havia me sentido atraído por ela naquela época, mas nada demais, coisa de homem que se sente atraído pelo perfume de uma fêmea, por seus cabelos, seu modo de falar e de andar, mas que não investe muito por já ter outras opções mais “fáceis” ou paqueras que já tinham evoluído um pouco mais.
- Pois é, que bom te encontrar, o que está fazendo da vida? – Um encontro inesperado é sempre algo interessante, serve para você se atualizar com relação às pessoas que saíram do seu ciclo de amizades e para elas se lembrarem de você, como diria meu antigo chefe, “quem não é visto, não é lembrado
- Estou trabalhando numa empresa de comercio exterior, viajando muito por aí a trabalho, e blá, blá,blá – Atualizei todos os meus dados pra ela, empresa onde estava trabalhando, cidade onde morava, viagens, amigos, família, só não tinha dito se estava solteiro ou casado.Ela por sua vez me atualizou seu perfil também, e foi quando ela fez a próxima pergunta:
- E aí já casou? E filhos já têm? – Fiquei analisando se aquela pergunta era mera curiosidade ou se estava abrindo alguma porta, sabe como homem é, mesmo que ele não faça nada, seja fiel, faz bem pro ego saber do interesse de alguém por si. Agora se o cara for mulherengo basta a oportunidade...
- Já casei e descasei, ainda não tive filhos – Disse isso numa boa, olhando bem pros olhos dela, fui sincero como nem sempre se deve ser. A essa altura já tinha reparado que ela tinha ficado bem mais bonita, usava pequenos brincos, anéis nos dedos, braceletes nos pulsos e tinha belíssimas tranças no cabelo. E aí foi a vez dela contar:
- É, eu também já fui casada, tenho uma filha desse relacionamento, infelizmente não deu certo, mas somos amigos – Tinham se passado 10 anos desde a ultima vez que eu tinha visto aquela moça, numa década acontece muita coisa na vida de uma pessoa, mas é impressionante a nossa capacidade de resumo, talvez porque alguns acontecimentos chave já sejam suficientes para contar nossa história em poucos minutos.
A fila andou e eu fui atendido pelo caixa numero 2. Em seguida ela foi atendida pelo caixa numero 5. Terminamos quase ao mesmo tempo o atendimento. Convidei-a para um café, mas ela disse que teria que recusar, estava em horário de almoço e tinha que voltar logo:
- Mas guarda meu telefone aí no seu celular, que eu vou guardar o teu, qualquer hora nos ligamos ou mandamos uma mensagem, daí marcamos esse café, sempre é bom reencontrar velhos amigos, colocar o papo em dia. Foi um prazer rever você. – Nos despedimos com sorriso nos lábios e beijo no rosto. Tenho que confessar que uma mulher educada, com classe, não por uma suposta aristocracia, mas pelos seus modos mesmo, pela sua forma doce e delicada de interagir e de se comunicar, conquistam um homem. As mulheres já deveriam ter entendido que ou elas fascinam um homem ou o atraem. Para atrair um homem é mais fácil, basta encurtar as saias, tornar os decotes mais generosos, usar roupas mais justas, remexer os quadris e ter um ar sensual. Mas para fascinar um homem a mulher precisa de mais que seu próprio corpo, ela precisa de sua inteligência, de seu charme, de sua educação e de seu carisma. Um homem atraído é mais fácil de se dominar, mas também a trairá mais facilmente, um homem fascinado se liga de uma maneira mais lenta, porém quando ela gosta em pouco tempo ama, e se amar vai amar mais fielmente. E por tudo isso numa questão de minutos o que antes, uma década atrás, era atração, agora tinha virado fascinação. Ela não era dessas mulheres lindas, de “fechar o comércio” ou que chama a atenção por onde passa.Mas tinha uma outra coisa e é justamente essa outra coisa que não atrai, porém, fascina.
No final do expediente pensei em mandar um SMS, mas antes de mandar a mensagem bateu uma insegurança, afinal ela poderia só ter sido educada e tal, isso deveria fazer parte do modus operandi dela, ou seja, ela “deve ser assim com todo mundo”, pensei. Então naquele dia não mandei SMS e nem liguei. Na verdade já tinha meio que desistido. Passou quase uma semana quando vibrou meu celular, era um SMS dela: “Disponível para um café ?” Dei risada, adoro esse mundo onde vivo, povoado por mulheres feministas da terceira onda,  mulheres que não são oferecidas, mas que vão a luta quando é preciso.Entretanto podia ser um equivoco meu, amizade, amizade, amizade, repeti pra mim mesmo como um mantra para não me frustrar ou criar falsas expectativas com relação a moça.
- Eu adoro cappuccino, mas nem sempre tomo para não enjoar -  Enquanto conversamos eu estava me lembrando de quando a conheci na Universidade.Ela sentava sempre na frente, fazia perguntas interessantes nas aulas, nenhum dos caras da turma a achava bonita, ela na verdade era discreta, estava lá pra estudar e não pra paquerar. Usava óculos, agora precia estar usando lentes.
- Você trabalha no quê? Gosta do que faz? – O processo de conhecer alguém é interessante, é como descascar uma cebola inteira, você começa pela casca e daí vai retirando camada por camada e sempre, sempre te faz chorar, a cebola arde os olhos e as pessoas têm sempre uma história dramática pra te contar.
- A minha ex-mulher adoeceu, vivemos alguns anos juntos, mas ela se foi por causa de uma doença grave – O café durou algumas horas, tínhamos combinado depois do expediente, contei essa história triste da minha vida pra ela e nem sabia por que, tinha gente muito próxima de mim que jamais soube disso. Ela me viu ficar emocionado e ela se emocionou também, acho que naquele momento se estabeleceu um laço, um vínculo.
- No inicio foi dolorido, imaginava que nunca mais sairia daquele estado de dor e de depressão que fiquei depois de sua morte – Contar a respeito do fato mais marcante da minha vida tinha sido sempre uma barreira, mas inexplicavelmente eu resolvi contar para aquela conhecida, que era quase uma estranha pra mim, mas uma estranha perfeita para aquela situação.
- Mas o tempo foi me curando e imagino que ela em outra dimensão estava me ajudando a esquecê-la - O lance espiritual dessa história me deixou abalado anos e anos e naqueles minutos olhando pra aquela moça de tranças estava ao mesmo tempo abrindo e curando uma ferida que eu julgava não existir mais. A vida nos surpreende, o que é bom porque enquanto ela surpreender é porque ainda temos tempo de vida e motivo para ter esperanças.
- Daí, amei de novo outras pessoas e hoje ela é só uma boa lembrança. – Tinha tirado dos ombros toneladas e mais toneladas de peso.
- Eu me separei do meu ex-marido por falta de diálogo, de carinho, de incompreensão, tentamos por nove anos, mas não deu certo, primeiro tentamos porque acreditávamos no amor que sentíamos dos tempos de namoro. No inicio viajamos muito juntos.Conversávamos sobre várias coisas, mas com o tempo tudo ao invés de se consolidar foi se arrefecendo – Ela contava essa história com tristeza, mas a maneira como ela contava era linda, há beleza na tristeza, eu consigo ver isso porque acho que um fato doloroso do nosso passado sempre pode ser restituído.Só não pode se a pessoa gostar de ser sofredora e se reconhecer assim.Não era o caso dela.
- Depois tentamos continuar juntos por causa da construção de nossos sonhos, nossas carreiras no inicio, muitos projetos em comum, o apartamento financiado, os carros financiados, o nascimento de nossa filha, as novas amizades das pessoas casadas como nós. Mas tudo ia aos poucos se descolorindo. – Nesse momento ela estava linda, ela era a mulher mais triste do mundo e a mais linda da terra. Ela contava algo comum a milhões de casais, um amor que não dura, um amor que vacila e que vai morrendo aos poucos, mas que não mata os amantes. Embora os machuque.
- E o último motivo pelo qual ficávamos juntos era por causa do desejo que sentíamos um pelo outro, desde o inicio o sexo entre nós era bom, mas passou a não ser mais, inexplicavelmente,  mas talvez tenha sido pela raiva que passei a sentir dele por não me ouvir, por não me amar como eu o amava, passei a sentir nojo dele, até que não transávamos mais. Isso foi o inicio do fim e nem a filha em comum conseguiu salvar nosso casamento – Poucas vezes eu tinha estado diante de mim alguém tão sincera, tive vontade de beijá-la, de acariciar suas tranças, ah que belas tranças ela tem em seus cabelos que a fazem ser uma menina linda num corpo de uma mulher madura. Mas não podia tocá-la assim tão explicitamente. Mesmo assim instintivamente nos abraçamos, forte, bem forte, quase um abraço desses de urso. Acho que foi nesse momento que se estabeleceu entre nós uma aliança, uma ligação, acho que mais, um reconhecimento um no outro de um sentimento. Acolhemos-nos mais do que nos abraçamos pra dizer ao certo. Porém tanto eu como ela sabíamos do desafio que era integrar uma vida a outra e nada deveria ser de repente. Já dura algum tempo nossa aproximação e sinto que ela também está fascinada por mim e possivelmente vamos nos apaixonar.
Hoje ainda não nos beijamos, mas já consigo acariciar suas tranças.

domingo, 8 de maio de 2011

A pintora


Passear pelo calçadão da praia de Copacabana era o que ela mais gostava de
fazer, principalmente nessas noites de outono, quando a brisa é mais
fresca. Chegava antes do sol se pôr para ver no céu a variedade de cores
que essa hora exibe. Só mesmo sendo uma pintora para perceber que o céu não é só azul com nuvens brancas. Ela conseguia distinguir os tons de dourado,rosa, cinza, vermelho, laranja e Hortência num pôr de sol.
Após o passeio Eleonora sentou-se numa das mesas em um dos quiosque da orla para tomar uma água de coco e ler um pouco. O lugar foi pouco a pouco sendo tomado por pessoas, que como ela, vinham para aproveitar o início da noite. Ela freqüentava aquele lugar desde mocinha, foi lá que conheceu o primeiro marido e o segundo também. Até seu filho ás vezes vai lá com os amigos e namorada e eles tomam um chopinho juntos bebendo de bem com a vida e jogando conversa fora.
Quando não havia mais lugar disponível e ela encontrava-se distraída na sua leitura, se divertindo com uma crônica do Ruy de Castro, um rapaz surgiu interrompendo, mas pedindo “com licença” antes, perguntou se poderia pegar uma das cadeiras que estava sobrando em sua mesa. Eleonora respondeu: “claro”. O rapaz levantou a cadeira e ficou olhando ao redor procurando onde poderia colocá-la. Eleonora olhou também e vendo que não havia lugar, convidou-o a sentar na mesma mesa que ela. Embora vivesse numa cidade perigosa ela ainda acreditava na sua intuição que lhe dizia que ele parecia ser uma boa pessoa. E além do mais ela conhecia todos os garçons e o dono do estabelecimento que lhe acudiriam ou lhe dariam alguma dica que o moço poderia ser algum malando. O rapaz então aceitou a gentileza e agradeceu sorrindo e ela percebeu que ele sorria de uma maneira singular. Seus olhos clínicos de pintora detectaram que sua boca sorria junto com seus olhos. Enquanto o rapaz tomava sua cerveja, Eleonora fingia ler. Das letras do livro seu olhar foi para as mãos do rapaz, que ela considerou serem perfeitas para uma pintura. As unhas limpas e cortadas, os dedos compridos, o pulso firme. Os músculos dos braços mostravam que ele não era um entusiasta por academia, mas tinham um bom contorno. Os ombros altivos, o pescoço forte. Ela ia passando os olhos no corpo do rapaz como quem passeia com o pincel em uma tela. O desenho do queixo, masculino. E, nesse devaneio, ela chegou nos lábios, que agora tinha um brilho molhado da cerveja. Nesse instante o sorriso se abriu de novo e ela olhou-o nos olhos que sorriam divertidos. Eleonora fora pega e sentiu-se encabulada, não queria que o rapaz pensasse que ela o estava paquerando, que era o termo que ela usava em sua época, ou “dando mole” como é o termo que se usa hoje.
Eleonora num primeiro momento estava com interesse profissional. Gostava de mapear o corpo dos homens para depois reproduzi-los em suas telas. E  em sua mente, ia construindo desculpas para a sua atitude. Mas o rapaz não sabia de nada disso e continuava olhando-a com aquele jeito maroto e curioso, aproveitou para lhe oferecer uma bebida. Ela pensou em recusar, mas pensou “por que não?” e aceitou beber com o rapaz alguns copos de cerveja. E papo vai, papo vem, eles foram se conhecendo. Ele contou que morava ali perto, tinha vindo do interior e trabalhava numa empresa de construção naval. Tinha se casado cedo, mas logo se separou.Não tinha filhos e não era fumante. Ela contou que dava aulas na universidade sobre arte e também era pintora.
E isso fascinou o rapaz, ele ficou curioso, fez mil perguntas. Ela empolgada, explicou tudo, deu detalhes, mas não percebeu que tinha bebido já muitos copos de cerveja e estava ficando tonta. Não costumava beber tanto.
- Já está na minha hora, estou quase bêbada, adorei conhecer você, és um rapaz muito simpático.
- Você é uma mulher encantadora, gostaria muito de conhecer seu ateliê se é que você me permite tal ousadia.
- Será um prazer te receber, acho que você vai gostar.
Ele se ofereceu para pagar a conta, mas ela recusou – Eu pago a conta desde que você aceite ser meu modelo. O rapaz fez uma cara de surpresa e ao mesmo tempo excitado, feliz pelo convite, parecia um menino
 -  Nossa que coisa incrível! E quando isso vai acontecer? Nunca me imaginei sendo modelo para uma pintora. Nossa, sensacional!
 - Pegue meu cartão, aqui tem meus telefones e meu endereço, se puder me ligue amanhã, marcamos no horário que nossas agendas permitirem, ok?
No dia seguinte os estranhos que foram ficando íntimos, encontraram-se de acordo com o combinado mediante contato telefônico, o atliê da pintora ficava em seu próprio apartamento, um amplo e espaçoso apê, porém acolhedor. A campainha tocou, era ele, tinha flores e um vinho nas mãos. Ela agradeceu e brincou com ele-  Vejo que meu modelo já entrou no clima mesmo antes de posar! - O rapaz sorriu encabulado, mas estava gostando do clima. Ela foi andando na frente e pediu que ele a seguisse. Entraram num cômodo onde logo se pode ver que se tratava de um ateliê.
O lugar estava quente e na penumbra ela acendeu um abajur, tirou de um armário um embrulho e o entregou. Depois apontou para uma porta e pediu que ele se trocasse e ficasse confortável. No banheiro o rapaz percebeu que o embrulho se tratava de um quimono de seda azul escuro com bordados em amarelo. Enquanto trocava de roupa ele indagava a si mesmo se deveria tirar toda a roupa ou se ficaria com algo por baixo. – Acho vou ficar só de cueca - pensou vestindo a roupa intima. Ao sair, encontrou a pintora também vestida num quimono, só que o dela era vermelho com lindos pássaros bordados nas costas. Distraída, ela escolhia tubos de tintas, pincéis, potes. Andava de um lado para o outro como quem procura algo. Dentre várias telas de tamanhos diversos, ela escolheu uma que colocou no cavalete. O rapaz se sentou num dos sofás e ficou observando a mulher ajeitar a tela, ajustar a luz da luminária, posicionar o cavalete, como se ele não estivesse ali. Quando ela percebeu que o rapaz já se encontrava no sofá, deu um sorriso. Pediu que ele se levantasse e forrou o sofá com uma colcha verde escuro. Por alguns instantes fitou a colcha e o rapaz, fez cara de desagrado, parecia não combinar. O rapaz que a essa altura já tinha virado modelo pra ela só observava. Ela trocou a colcha por uma cor de vinho bem escura e se sentiu satisfeita.
Sem falar nada saiu da sala e quando voltou trazia nas mãos uma garrafa de vinho e dois cálices que ofereceu ao rapaz. Por segundos ficaram se fitando, mas não falaram nada. Ele já tinha sacado como deveria se comportar e ficou calado. Ela foi até ele e delicadamente abriu seu quimono. Em outra ocasião ele se sentiria lisonjeado, mas naquela situação ele se sentiu encabulado. O perfume da pintora deixou-o ligeiramente entorpecido. Eleonora pediu que ele se recostasse no sofá, pegou suas mãos e olhou-as. Com as pontas dos dedos foi sentindo os músculos dos braços, do peito, do ombro. Depois olhou suas costas passando os dedos por sua coluna e por suas coxas.
Enquanto ficava imóvel, o rapaz pode observar a mulher que o pintava. Seu cabelo fora preso num coque com um pincel e alguns fios caiam pelo rosto e pelo pescoço. E quando ela tentava ajeitar o cabelo, seus dedos, sujos da barra de carvão, manchavam seu rosto. Ao se apoiar no banco, perto do cavalete, seu quimono abria e deixava a mostra suas pernas e coxas brancas. Seus ombros também ficavam desnudos em alguns movimentos e ele pode perceber a ponta de uma tatuagem, mas pela luz ele não conseguiu distinguir o que era.Seus seios pareciam médios e os bicos saltados se deixavam perceber pela seda fria do quimono.
Ela riscava a tela, bebia um gole de vinho, olhava para o modelo, dava um
passo atrás para olhar o desenho e depois voltava a riscar. O rapaz acompanhava seus movimentos se sentindo atraído por aquela mulher. Tentou então desviar o olhar e passou a analisar o atelier. Numa das paredes havia
uma estante repleta de livros de arte, na outra, prateleiras com latas e potes de tintas misturavam-se a potes com pincéis, alguns mergulhados em líquidos. No chão, apoiados em armários, ele podia ver vários quadros pintados, provavelmente por Eleonora. Uma grossa cortina cobria as janelas e no chão um carpete respingado de tintas de várias cores. Seu olhar rodeou o cômodo e terminou na mulher novamente. Ela estava parada olhando-o com a ponta do pincel nos lábios. E de uma maneira segura, pediu que ele tirasse "isso" e apontou para a única peça que o rapaz havia deixado no corpo. Ele olhou-a e com um só movimento tirou a cueca ficando inteiramente nu.
Ele estava muito excitado, mas ela não poderia representar isso na tela, não era seu estilo, porém pensou quem sabe depois de pintar, na vida real ela fosse à tela e ele o pintor, tocando ela no ventre com seu pincel duro, ela tivesse nascido para ser dele, e ele tivesse nascido para devorá-la, escavando sua pele e suspendendo o tempo até o momento final onde ela sentirá o mel escorrendo de sua fenda e ele jorrará leite de seu pincel.

domingo, 1 de maio de 2011

Jantarzinho japonês


Eu a conheci num daqueles sebos, um que vou sempre e fica lá no centro da cidade, no meio de todos aqueles livros antigos e eu nem a percebi, ela também não me percebeu de primeira, eu estava procurando alguma coisa de Jean Baudrillard, ela depois me contou que queria encontrar alguma coisa do Quintana. E esse foi nosso elo de ligação, o poeta gaucho como ela, o poeta de versos como : “Mas o que quer dizer este poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora.E o que quer dizer uma nuvem? - respondi triunfante.Uma nuvem - disse ela - umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo.” Quando vi o livro em suas mãos sorri, ela sorriu de volta.Extrovertida que só ela, me perguntou já pertinho de mim: “Tu gostas do Quintana?” E eu nem tão extrovertido assim respondi: “Adoro, ele é um dos meus poetas favoritos!”.E daí tudo começou assim, os livros nos uniram.Acabei até me esquecendo de Baudrillard, começamos um papo cabeça na Praça do Patriarca que durou até a Avenida Paulista, subimos por todas ruas falando sobre tanta coisa que agora nem sei contar.  
Todo mundo tem uma história, e a dessa moça era bem interessante, “elétrica”, ela não parava de falar, tanto que em uma hora eu já sabia quase tudo sobre ela, sobre os caras que ela tinha namorado, sobre os lugares que ela tinha morado, enfim tudo que conta a nossa história, as pessoas que amamos e os lugares onde moramos.  São Paulo é assim, um lugar em que apesar das multidões e possibilidades as pessoas seguem sozinhas e melancólicas, sempre procurando alguma coisa ou alguém, mas elas nem tem muita consciência disso, não há tempo pro tempo em São Paulo. Convidei ela pra jantar.Apesar de saber que ela é gaúcha , acabei usando uma cantada tipicamente paulistana fugindo do clichê churrasco, já que a “prenda” é dos  pampas.E não há cantada mais paulistana do que convidar uma mulher para um “jantarzinho japonês” , é cool , interessante, na moda, esse tipo de coisa, sempre dá certo, acho que é porque elas acham interessante alguém que gosta de comida japonesa, algo haver com grau de sofisticação.Eu que não gosto de peixe cru e de quase nenhuma dessas iguarias orientais, queria impressionar a gaúcha e comi todo aquele combinado que vem num barco, claro que misturando no Shoyu e com um pouco de raiz forte pra descer melhor.E que com certeza, devido ao meu estomago não ser afeito, seria digerido no apêndice que no meu corpo tem essa função.
E fui me envolvendo com as falas dela e elas com as minhas, que mesmo poucas, acho que a fascinaram porque logo percebi que ela estava afim.O legal foi ter percebido isso logo, e ela também ter sacado da minha intenção bem no inicio.Fomos levando tudo numa boa, mas os dois sabendo qual seria nosso destino depois do “japonês”.Ela levantou foi no banheiro.E eu fiquei lá pensando no que eu falaria pra ela para irmos para algum lugar mais calmo(outro puta clichê pra levar mulher pra cama), mas logo que ela voltou já chegou chegando e me deu um beijo.Confesso que por mais otimistas que estivesse não esperava tanto afã por parte da moça, mas pra mim que adoro coisas novas e diferentes foi extremamente prazeroso sentir a mulher no ataque e tomando a iniciativa
- Vamos pra um lugar mais reservado? – Na mosca! Não foi eu, mas ela a usar o clichê mais batido de Sampa, é provavelmente do mundo todo, pra ser levada pra cama. Pedi a conta, paguei e entramos no meu carro. Para manter a “temperatura”, a moça quase nem falou, usou todos aqueles expedientes e truques que você está pensando, nessas horas a boca faz muito mais do que falar.
Na Marginal Pinheiros procuramos por um motelzinho como se estivéssemos diante dum cardápio tamanha a variedade deles, terminamos escolhendo um temático, oriental para continuar combinando com nossa noite, que aliás que noite!  Eu ainda não amava a moça, não tinha dado tempo, mas a sublimação da atração foi maravilhosa, é como diria Woody Allen: O sexo sem amor é uma experiência vazia. Mas como experiência vazia é uma das melhores.
Acordei depois dela, e como havia previsto, com uma baita dor de barriga por causa da comida. Ela já tinha se levantado, chamei por ela, em vão, a gaúcha já tinha partido com um vento minuano da manhã. Mas ao chegar ao banheiro para aliviar meu apêndice, para minha surpresa lá estava escrito de batom no espelho do banheiro um poema do Quintana:

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amado,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda..