Desejo não é pecado

“Amor é o desejo irresistível de ser irresistivelmente desejado.” (*Robert Frost)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A casa de Maresias – Parte I


Saindo de São Paulo aquele trânsito infernal, parecia que a cidade inteirinha estava descendo para o litoral,“efeito manada” dizia o pai arquiteto.Na rodovia Ayrton Senna eles sempre paravam no mesmo posto.Abastecimento, banheiro e sanduíches era o script, a mãe psicóloga ia com as meninas Lorena e Clarice ao toalete feminino enquanto o pai levava os gêmeos, Mauro e Murilo, para fazer xixi.Lorena com seus treze anos e Clarice já com dezesseis.Viajavam na confortável camionete do pai, cabine dupla, espaçosa, abrigava todo mundo com sobras, ar condicionado e bancos de couro.Além dos filhos a babá Jussara também estava com eles.
Na rodovia dos Tamoios os quatro ficavam nas janelas olhando o mar lá embaixo enquanto o pai ia contornando a serra do mar.A mãe, um pouco alheia, lia um livro.A relação do casal era razoável, já tinham passado por muitas crises, mas o casamento sobreviveu em grande parte, é verdade, por causa das crianças e pelo patrimônio.E também por ela ser psicóloga e  ter aprendido a se resignar, a renunciar um pouco as frescuras.Aprendeu com a mãe, filha de italianos, que “mulher ás vezes tem que ser surda e só abrir a boca se for para dizer coisas sábias”.Ela não era tão Amélia assim, mas tentava.Já ele era durão, mas tentava ser sensível.
As férias na praia para aquela família paulistana era um grande evento que marcaria para sempre a vida dos seis. Ficavam sempre numa casa que tinha sido dos pais dele, o arquiteto. Aliás, o arquiteto era filho de um arquiteto também, por isso a casa era toda planejada, um sobrado angular, cheio de vidros nas arandelas e amplas varandas. Na praia de Maresias essa foi uma das primeiras mansões construídas ainda nos anos 70. A casa foi sendo reformada ao longo dos anos, mas guardava ainda em seus corredores, varandas e amplos quartos, velhas histórias. O arquiteto passou muitos verões com os amigos da faculdade lá. Deu muitas festas, experimentou drogas e sua iniciação sexual foi no quintal dos fundos com uma moça chamada Flávia.
Os gêmeos vieram depois que a psicóloga tentou engravidar várias vezes, foram concebidos por fertilização assistida. A primeira filha não, Clarice foi um susto, ela engravidou naquela mesma casa, dezesseis verões passados, não estava tomando remédios e por terem bebido demais esqueceram do preservativo. O resultado foi que ela engravidou aos vinte e dois, sorte que já tinha terminado a faculdade e ele também. Os pais dos dois, chocados, então apressaram o casamento. Casaram rápido, menos de seis meses depois. A festa foi na casa de Maresias, recepção para 120 convidados. Já Lorena nasceu quando eles ainda se amavam, também concedida no quarto da esquerda da casa de Maresias.
É nessa praia que muitas experiências importantes acontecem pela primeira vez: beijos, paixões, traições, drogas, baladas, bebedeiras. Clarice beijou pela primeira vez João na boate, tinha só 12 anos. Murilo quebrou o dedinho do pé após topar na pedra mineira da piscina. Lorena menstruou pela primeira vez aos doze anos quando se preparava para ir para a praia.Mauro deu seus primeiros passos na varanda.A mãe, a psicóloga, certa vez veio sozinha de férias fora da temporada, em setembro, para a casa.Em crise no casamento, acabou se envolvendo com um empresário.Saíram para jantar algumas vezes, mas ela não teve coragem de ir pra cama com ele.Ficou arrependida, chorou muito olhando para ondas brancas.Só a casa é testemunha de seu segredo.Ela beijou o empresário na boca muitas vezes, em uma semana que estiveram envolvidos ela chegou a pensar que o amava.
Nesses dias de férias em que a família acaba passando mais tempo juntos é que os conflitos ficam mais nítidos, coisas que não aparecem na rotina deles do dia-a-dia do apartamento nas Perdizes. As meninas vivem brigando, parecem que competem, os gêmeos não param quietos, aprontam o tempo todo, davam muito trabalho para a babá Jussara.A babá com seus dezoito anos andava dando mole pro motorista de uma mansão ao lado.Seu quarto ficava na ala externa da casa e isso lhe dava uma certa liberdade.De noite depois que fazia os gêmeos dormir, sai de fininho e ia conversar com ele.Não demorou muito já estavam transando no quartinho de madrugada, todas as noites.

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