Desejo não é pecado

“Amor é o desejo irresistível de ser irresistivelmente desejado.” (*Robert Frost)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A casa de Maresias - Parte V


As meninas

O arquiteto estava cercado por três mulheres fortes e geniosas. A mais nova Lorena sentia ciúmes da proximidade da irmã Clarice com ele. Isso a revoltava, a deixava chateada. Já Clarice lutava com a mãe pelo poder de forma velada. Não a obedecia.Freqüentemente usava roupas decotadas demais e tinha uma tendência se tornar promíscua embora guardasse em si ainda um certo pudor.A mãe, a psicóloga, se sentia muitas vezes infeliz dentro daquele casamento.Vive um conflito interno entre sua parte Amélia, influenciada  pela mãe de família italiana, e sua parte libertária influenciada pelo pai.A convivência dessas três mulheres se intensificava na casa de Maresias quando durante o verão passavam alguns meses juntas.Clarice desde muito cedo tinha criado um estilo próprio, muito vaidosa e independente, dispersa, ativa, extremamente extrovertida e que fazia amizades facilmente.Já Lorena era mais retraída, mais obediente e concentrada.Parecia sempre muito focada nos seus objetivos e suas amizades eram bem poucas.
A psicóloga justamente por ser psicóloga tentou criá-las de uma maneira perfeita, segundo o que aprendeu na faculdade e da observação da vida prática e de seus pacientes. Tentou não interferir em suas personalidades e sempre buscou ser compreensiva. Mas nem sempre teve muito tempo pra isso, sua carreira logo cedo deslanchou, ela trabalhou muito anos numa empresa em que prestava consultoria e depois abriu seu próprio consultório.Apesar de pouco tempo com as filhas sempre foi uma mãe muito presente.Sempre que possível comparecia as reuniões, ligava para elas durante o dia e a noite sempre conversava com as crianças durante o jantar.Faziam as lições de casa juntas e aos finais de semana o tempo todo estava por perto.
Desde quando as meninas eram pequenas sempre houve alguém para cuidar delas enquanto seus pais trabalhavam. Naquela época eles não queriam babás, a prima Rita, prima da psicóloga, foi a primeira que cuidou delas.A prima Rita era uma mocinha ainda quando ajudou a psicóloga cuidar da Clarice bebê.As duas avós ajudaram bastante também, mas foi a prima Rita que segurou a barra.Vinda do interior, a prima Rita quase tinha virado freira, e só não virou pra cuidar da Clarice.Prima Rita é dessas mulheres que só riem, pra ela estava sempre tudo bem, tudo bom, nada a chateava, nunca ninguém a viu de mau humor ou contrariada.Quando Lorena nasceu a prima Rita ainda estava lá.Na casa de Maresias foi ela quem organizou os murais de foto e uma espécie de exposição de desenhos infantis das irmãs desde quando elas ainda eram crianças em idade pré-escolar.Os desenhos que ficavam pendurados na porta da geladeira do apartamento de Perdizes eram cuidadosamente transportados por ela para casa de Maresias onde ela num dos quartos organizava nas paredes uma exposição.O lado “C” era o de Clarice e o lado “L” o de Lorena.Prima foi embora quando as meninas cresceram e passaram a estudar quase que o dia todo.Virou freira.
Na casa de Maresias cada uma tinha seu quarto. O quarto de Clarice estava sempre bagunçado, o de Lorena um pouco mais organizado.Cada uma tinha suas bonecas e seus brinquedos separados em São Paulo, mas na casa de Maresias tudo se misturava.O lugar preferido da casa das meninas, quando ainda eram pequenas, eram os dois balanços que o avó, pai da Psicóloga, tinha feito pra elas no fundo da casa.Eles eram feito de cordas vermelhas, um assento era branquinho o outro azul.O azul era o de Clarice, o branquinho de Lorena.Ficavam dependurados no galho de uma velha árvore que parecia estar lá mesmo antes da construção da casa.Fora preservada pelo outro avô, o pai do Arquiteto.As duas passavam lá horas se balançando cada vez mais alto, cada vez mais alto.E a prima Rita paciente que só ela, balançou muitas vezes as meninas até quase sua completa exaustão.
Quando as meninas foram uma vez numa feira de animais adoraram um pintinho e fizeram o Arquiteto comprá-lo e o levaram para casa. Chegando lá a psicóloga quase pirou, brava interpelou o Arquiteto e as filhas: “Onde já se viu criar um pintinho em apartamento?”. E ela estava certa porque o pintinho foi crescendo no apartamento até um dia que a bagunça que ele fazia e o cheiro de seus excrementos não davam mais para ser tolerados na lavanderia do apartamento em Perdizes. E o pintinho foi morar lá na casa de Maresias perto do muro dos fundos, do lado da casa do caseiro. Depois veio o Ralf, um cachorrinho da raça Labrador simpático, que as meninas ganharam de um amigo do pai do Arquiteto.Enquanto ele era pequenininho tudo bem, era uma gracinha, mesmo quando fazia cocô e xixi no chão do quarto das meninas, mas teve um dia que ele rasgou o sofá branco da sala de estar que era o xodó da psicóloga.Ela surtou e despachou ele para a casa de Maresias no final de semana seguinte.E o cãozinho foi morar num canil que o caseiro construiu especialmente pra ele lá.Teve ainda um porquinho-da-índia, o Tuti, que também foi morar na casa de Maresias porque vivia fugindo e freqüentemente era encontrado no banheiro da psicóloga que tomava susto todas as manhãs com ele porque o confundia com um rato.
Lorena desde pequena se adaptava facilmente a casa de Maresias, dormia tranqüila e calma.Já Clarice demorava alguns dias para se aclimatar ao calor da praia.As duas adoravam brincar na areia e aprenderam a nadar bem cedo na piscina da casa.No mar se deixassem, passavam o dia todo brincando bem na beirinha, já que o mar de Maresias é bem bravo.Clarice desde pequena gostava de fazer castelos, já Lorena gostava de fazer buracos.As duas sempre brincavam juntas, mas Clarice sempre quis comandar as brincadeiras.

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