Desejo não é pecado

“Amor é o desejo irresistível de ser irresistivelmente desejado.” (*Robert Frost)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Iniciação


A primeira mulher que vi nua na minha vida foi a Xuxa.Ela estava lá peladinha numa revista chamada “Status” que acidentalmente descobri embaixo da cama dos meus pais(estava “encaixada” entre o entrado e o colchão).Era agosto de 1981, eu tinha só sete anos de idade e ainda me lembro da sensação que tive, do cheiro das páginas da revista e das fotos dela semi-vestida de marinheira e fazendo poses com cintas-liga como se fosse a Marilyn Monroe que eu ainda nem conhecia.Acho que aquela experiência foi decisiva na minha vida, uma descoberta que não dividi com ninguém na época, mas que me deixou fascinado pelas mulheres e pela sensação boa que elas me faziam sentir com a visão de seu corpo.
Eu ainda não tinha idade para entender exatamente, mas me lembro que senti uma sensação boa. A mesma que com o passar dos anos fui compreendendo que sentia quando olhava para as pernas, seios e coxas das meninas da minha idade, das moças mais velhas e até das mulheres da idade da minha mãe.O sexo sempre foi algo muito bem resolvido na minha cabeça, mesmo estando em contato com os inúmeros absurdos que os garotos inventavam, com o pudor que a família, a sociedade e a igreja dão a ele como um ato de luxúria ou pecado.Fiquei constrangido, mas com nenhum trauma nem mesmo quando fui flagrado me masturbando pela minha mãe bem no inicio da adolescência.A descoberta do corpo pelo menino é sempre um ato emocionante, cheio de adrenalina e curiosidade.Alguns dos limites impostos pela sociedade, até mesmo a moral quando ela não é hipócrita, são bons para o nosso bom desenvolvimento emocional, ruim é o exagero, a repressão, o corpo pode ser ao mesmo tempo: templo, trabalho e prazer.
A primeira vez que vi um filme que continha imagens de nudez foi “Pretty Baby”, com a Brooke Shields onde ela interpretava uma criança que vivia em um bordel e que atuava em várias cenas de nudez com apenas doze anos, a mesma idade que eu tinha na época.Também vi por acidente porque acordei de madrugada e o filme estava passando, assisti escondido com o coração aos pulos.Depois eu e um amigo no inicio da era do videocassete gravamos clandestinamente na madrugada “A lagoa Azul”.Hoje o filme passa na “Sessão da Tarde”, mas na época nossos pais nos proibiam de assistir.Programamos o videocassete da casa dele que gravou “tudinho” para o nosso deleite na manhã seguinte quando ele me ligou confirmando que o nosso plano tinha dado certo.Depois veio “Endlesse Love”, o “Amor sem fim” que também tinha Brooke Shields numa das histórias de amor mais belas já contadas no cinema, na época comecei a entender que sexo e amor podiam vir juntos dentro de uma relação.
Na “vida real” a minha iniciação sexual foi tardia, um pouco pela minha timidez de menino criado intensamente pela mãe, e outro tanto pela minha não simpatia pela prostituição. Foi tardia pelos padrões porque bem cedo aprendi que sexo também é uma maneira de manifestação política, porque enseja em si um ato de liberdade e de sentimentos, um padrão de conduta, um conhecimento dos limites e o respeito pelo meu corpo e a admiração por todos os tipos físicos e de personalidade. O sexo me salvou de ser preconceituoso e me tornou mais humano.
E naquela minha inocência de 17 para 18 anos uma moça surgiu pelas bandas de onde eu morava, éramos colegas porque estudávamos na mesma sala, apesar de termos a mesma idade, ela era bem mais experiente do que eu, enquanto durante toda a adolescência eu fui um garoto platônico, ela já tinha namorado homens mais velhos e sua iniciação sexual se iniciou aos 13 anos. Ela nem sabia quando se aproximou de mim da minha condição de virgem, carioca que é, ela tinha um jeito de ser expansivo e liberal, me chamou para ir para a praia num domingo, final de tarde.Sem saber, e por incrível que pareça, inocentemente, eu não sabia que ela tinha planos.Fomos nadar juntos na água do mar, era dezembro a água estava gelada.Ela sorria e brincava comigo, vire e mexe se enroscava no meu corpo e se roçava em mim.Notando a minha timidez  foi mais além, tirou a parte de cima do biquíni,nadou pra longe de mim e me chamou.E quanto mais perto eu chegava, mas pra longe ela fugia.Ela deu a volta no meu raio de ação e saiu da água, sentou na areia com os seios de fora, e de lá fez sinal pra mim com as mãos e disse: “Vem me pegar, vem!”.Comigo foi ao contrário, eu é que fui seduzido por uma mulher.O que começamos na praia terminamos na rede da varanda da minha casa.A noite já feita  e eu me tornando homem no inicio dos anos 90, meu coração quase saindo pela boca, uma paixão avassaladora nascendo, o muro de Berlin dentro de mim sendo derrubado, enquanto os caras pintadas estavam indo para as ruas para pedir a queda do Collor. E eu que era menino, agora como homem, estava suando de prazer pela primeira vez. Era a minha estréia no mundo que começava a se globalizar, minha inserção naquela juventude que eu assistia pela televisão na MTV, foi logo naquela época que eu aprendi a amar as pessoas como se não houvesse amanhã, e o sexo que começou proibido,  quando foi finalmente descoberto, me entregou para a máquina do mundo para ser devorado ou para devorar.Um grão de areia no meio do furacão.
O desejo não é só um sentimento, ele é muito mais do que isso, ele é uma força, uma força impossível de ser detida.

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