Desejo não é pecado

“Amor é o desejo irresistível de ser irresistivelmente desejado.” (*Robert Frost)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Janelas indiscretas

Do apartamento dele dá pra ver tudo que acontece no apartamento dela. O seu melhor programa de sábado a noite é vê-la se movimentando como voyeur nato que é.Apaga as luzes da sala, pega o binóculo e se senta numa poltrona que comprou exclusivamente para isso.E ela anda pelo apartamento à noite no verão sufocante. Parece que não consegue dormir, talvez porque sua calma queima, ou será ela a queimar os lençóis? Prende os cabelos num rabo de cavalo e refresca a nuca. Ele ajeita-se melhor na poltrona. Ela vai ao quarto, escancara a janela e puxa as cortinas. Respira fundo procurando um frescor, mas o ar está parado. O ventilador de teto em sua sala deve estar soprando o hálito do dragão. Ela vai à cozinha, abre a geladeira e se esfria rodando o próprio corpo ente a porta e as prateleiras, na esperança de se sentir melhor. Pega a garrafa d'água e passa pelo rosto, pelo pulso, pelo peito. Nem o chão ladrilhado parece estar fresco. Seus pés descalços sentem o morno do chão castigado pelo sol durante o dia e que agora guarda a lembrança desse dia de verão. Ele se levanta rápido para buscar um copo de coca-cola na geladeira, também sentindo o calor escaldante daquela noite que parecia ter ao invés da lua brilhando no céu, um pequeno sol cintilando e esquentando a cidade.
Na sala, ela abre a porta de vidro que dá para a varanda, onde se apóia e espera pelo movimento dos galhos da árvore ao lado do seu apartamento, que não vem. Suas coxas estão suadas e ela se lembra de uma outra noite, em que suas coxas ficaram assim, quentes e molhadas, mas não era verão e ela não estava sozinha. Ela sente a sensualidade invadir seu pensamento. Anda até a área de serviço, fica olhando as estrelas no céu. Resolve se molhar na torneira do tanque. Ali a água está mais fresca. Ele já encontrou com ela pessoalmente outras vezes.Na padaria, no supermercado.E ela nem desconfia.Já trocaram até um oi na rua outro dia.
Ela coloca a cabeça debaixo da torneira molhando os cabelos, o rosto, o pescoço. Depois sacode os cabelos deixando a água escorrer pelo corpo. Sua camisola fica encharcada. Ela fica parada por alguns minutos saboreando o momento, depois arranca a roupa e joga-a dentro do tanque. Ele quase vai ao êxtase, com os olhos grudados no binóculo saboreia cada pedaço de seu corpo e sente o gozo do voyeur. Olhar pelo prazer de ver.
E ela então nua e molhada  se deita na cama e finalmente dorme.

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