Desejo não é pecado

“Amor é o desejo irresistível de ser irresistivelmente desejado.” (*Robert Frost)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A casa de Maresias - Parte VI



O encontro

A psicóloga conheceu o arquiteto lá em Maresias, na época deles tinha um bar da moda que todo mundo gostava de freqüentar. Os jovens vinham de São Paulo descendo a serra já pensando na azaração, nas bebedeiras e na diversão do lugar.A turma do arquiteto estava quase todos os finais de semana por lá.Praticavam o surfe e a praia sempre foi um dos melhores lugares do país para se surfar.E ele tinha casa naquele paraíso.Já a psicóloga vivia numa família repressiva e só conseguia sair quando os dois irmãos mais velhos do que ela a convidavam pra ir.Foi num final de semana desses que eles juntaram uma turma legal e alugaram uma casa praia.
A casa era bem precária, tinha goteiras, os carros atolavam na garagem, tinham baratas saindo dos ralos, as lâmpadas todas queimadas e nem tinha cama suficiente pra todo mundo.Mas naquela época ninguém ligava pra conforto, todo mundo queria era diversão, e o que poderia parecer um programa de índio logo se transformava em entretenimento.Então saia todo mundo matando as baratas, as meninas se uniam para afzer uma faxina na casa e os rapazes iam dando um jeito nos “defeitos” da casa.No final dava tudo certo e todo mundo se divertia saudavelmente.
A turma era legal, além dos irmãos dela e das namoradas, tinha outras moças e outros rapazes, mais ou menos umas quinze pessoas numa casa onde cabia no máximo oito. Apesar do status de “casa na praia” na verdade a casa ficava bem longe da praia, todo mundo tinha que ir de carro pra poder chegar até ela. Durante o dia todo mundo começava espremido debaixo dos guarda-sóis para se proteger do sol abrasador de janeiro no Litoral Norte, mas a medida que tomava-se caipinha e bebia-se cerveja, rolava um relaxamento total,alguns se aventuravam a dar voltinhas pela praia, outros jogavam frescobol e tinha ainda aqueles que iam formando uma rodinha de conversa na água do mar onde se falava animadamente sobre os mais variados assuntos.O resultado é que de noite antes de tomar banho estava quase todo mundo com insolação.E comprava-se tubos e tubos de um creme que aliviava as queimaduras do sol.
Quando chegava a noite, mais ou menos lá pelas onze e meia, era a hora do grande evento, o bar Shaolin era o grande bar da moda na praia naqueles anos.Um bar que começou como um quiosque e que de fato durante o dia era um quiosque, mas a noite se transformava em balada.A juventude dançava e bebia literalmente com o pé na areia porque a areia era o piso do lugar envolta do bar. E tinha música, geralmente era um Dj que escolhia a trilha sonora com estilos como a surf music ou Reggae, tocava bandas como o Australian Crown , Midnight Oil, Peter Tosh, Yellow Man, Bob e Zig Marley.Naquela década foi o surgimento da influencia baiana na Música Popular Brasileira, e a Daniela Mercury estava em alta e fazendo muito sucesso.A mulherada turma da psicóloga adorava e faziam até coro com a música da baiana. “Lágrimas nos olhos, de cortar cebola.Você é tão bonita.Você traz a coca-cola eu tomo.Você bota a mesa, eu como, eu como.Eu como, eu como, eu como...você! Você não está entendendo.Quase nada do que eu digo.Eu quero ir-me embora.Eu quero é dar o fora.E quero que você venha comigo...todo dia, todo dia!
E essa influencia dos tambores baianos também atingia o que a moçada bebia.Uma bebida chamada “capeta” era moda.Um monte de coisa misturado com água de coco que dava um “fogo” absurdo. Na casa alugada quando se aproximava a hora de todo sair, a bagunça se instalava. Era uma mistura de perfumes, uma algazarra da mulherada experimentando brinco uma da outra, vestido, colar.O visual era sempre naquele estilo mais hippie, saias indianas longas e coloridas, muitos brincos, colares e sandálias rasteiras. Do lado dos homens tudo mais sossegado, alguns faziam churrasco ouvindo Jorge Benjor ou Tim Maia, outros bebiam cerveja enquanto outros ficavam roncando no sofá e até mesmo no chão.O pessoal só ia tomar banho bem em cima da hora.A roupa era simples, era só usar um desodorante, algumas gotinhas de perfume, colocar uma bermuda, pendurar uma camisa no pescoço e calçar um chinelo.E pronto, estavam todos prontos pra night.
Enquanto isso na Casa de Maresias o Arquiteto e seus amigos surfistas bebiam wisky com pedras de gelo feitas de água de coco. Sentados na varanda ao som, bem alto, de Bob Marley, comendo churrasco preparado pelo caseiro e pela sua esposa que era uma espécie de empregada da casa.Dois deles fumavam maconha nos fundos e riam a beça um da cara do outro.A casa de Maresias nesses finais de semana era território livre para as transgressões daqueles jovens.Já tinha até um quartinho preparado para tanto.Quem conseguisse descolar sua gata podia usá-lo.
No Shaolin naquela noite de janeiro a lua brilhava soberana sobre o oceano atlântico de Maresias e suas ondas iluminadas por esse luar, de tão brancas pareciam neve.A música que tocava naquele momento, unidade indivisível do tempo, era “You are me sunshine” , todos dançavam animadamente naquele passo do Reggae, onde se levanta uma perna de cada vez com um salto no ar, sem esquecer dos braços balançando no ritmo, o jogo de luzes projetava as cores amarelas, azuis e vermelhas em todo mundo.A psicóloga estava com um vestido longo, cor de creme, tranças em seus cabelos loiros, o arquiteto estava de bermuda amarela.Em a música alta e dançante, ou a bebida fazendo efeito, e nem porque cada estava dançando um numa turma diferente impediu que eles se conhecessem.
Seus irmãos eram ciumentos e bravos, mas estavam ocupados demais com as respectivas namoradas para prestar atenção na irmã. Foi naquele momento, unidade indivisível do tempo, que o Arquiteto viu uma moça de pele branca, grandes tranças loiras e de vestido creme sorrindo.Tinham várias outras moças lindas em toda parte.Mas aquela em especial, no meio de todas aquelas beldades, foi que lhe chamou atenção, naquele momento.E ele foi lá, movido pela bebida e pela atração, dançar pertinho dela.A psicóloga estranhou, mas depois achou engraçado aquele marmanjo de caracóis nos cabelos dançando e fazendo graça perto dela.E sorriu.E quando ela sorriu ele sorriu também porque sentiu que bateu, bateu algo entre eles.Não disseram uma palavra, só ficaram lá se olhando e rindo.A música terminou, as amigas dela a puxaram e ele sem graça voltou pra sua turma que ficou tirando sarro da cara dele como se aquilo tivesse sido um fora.Mas não foi.
Não foi porque a psicóloga não tirava mais o olho dele, disfarçava, mas tinha se sentido atraída pelo cara de cabelos com caracóis.E ele do seu lado também tinha ficado interessado pela moça de grandes tranças loiras.E quando ela foi ao banheiro ela a seguiu.Conversaram, com um “oi”, os dois riam sem parar.E o papo foi curto, com frases como “eu te achei linda”, “obrigada, são seus olhos”, “ você vem sempre aqui?”, “adoro o Shaolin”, “meus irmãos são ciumentos podem nos ver juntos”, “vamos pra praia, tem uma lua linda brilhando lá”, “você dança bem reggae”, “queria te beijar”, “não sei se devo”, “deve,  você vai adorar”. E bem debaixo de um pé de abricó, que aliás ainda está lá, foi que eles se beijaram.

3 comentários:

Unknown disse...

essa istoria é muito legal eu [LITO}conheci o shaulin no ano 1987, e claro era muito legal, os tempos mudarão e bar igual quele nao vai ter mas, e esse video q meu amigo Fernando bradão fez na minha rede, vindo de uma postagem do Matheus um cara nota 10

Nessundorma disse...

Lito preciso continuar esse conto, eu até hoje ainda vou a Maresias e sinto muita falta dessa época.Espero que volte para acompanhar a continuação da história, o vídeo realmente é muito legal, um grande abraço!

Unknown disse...

Andre muito legal vc falá do shaolin, pq tenho muita saudade daquela epoca, teve uma noite q um certo maluco, distribuil ACIDO PRA MUITAS MULHERES, e no meio da noite as minas comesarão a correr pelada, foi muito louco, eu tava sentado naareia, veio uma garota perto de me abril as pernas e perguntou se eu gostei, imagina o estado dela´essa ´´e uma das muitas istoria do SHAOLIN, forte abço