Desejo não é pecado

“Amor é o desejo irresistível de ser irresistivelmente desejado.” (*Robert Frost)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A casa de Maresias – Parte II

Jussara

A família passava as tarde de sol entre banhos de mar, castelos de areia, guarda-sóis, livros e grandes copos de caipirinha. As noites na casa de Maresias eram sempre movimentadas, outros casais vinham visitá-los, amigos de São Paulo que também passavam as férias de verão por lá. As festas eram regadas a muita cerveja e música.As meninas já adolescentes ficavam logo entediadas e como tinham a sua turma saiam logo para as baladas.Na verdade pequenos barzinhos perto da praia repletos de adolescentes barulhentos e hiperativos como elas.
A casa contava com alguns empregados, duas moças que cuidavam da arrumação dos quartos e eventualmente ficavam até mais tarde para ajudar a preparar comes e bebes também. Uma terceira trabalhava como cozinheira. Além do caseiro Silvio que morava na casa dos fundos e cuidava da piscina, dos jardins e de toda conservação, manutenção e segurança do imóvel. Só as paredes da casa de Maresias sabiam que o casamento desgastado era bonito por fora como a fachada da casa, mas muito frágil e não tão sólido por dentro.Os dois já chegando aos quarenta, apesar de jovens e bonitos, lutavam para se sentir desejáveis.
Clarice é uma menina precoce, vive um conflito velado com a mãe psicóloga que parece sentir ciúmes do pai com ela. A mãe se sente incomodada com a relação tão próxima deles. Do fato dela ainda se sentar no colo do pai, da maneira com ela a beija ou dá um tapinha no bumbum da filha. Mas a malícia só está na cabeça dela.Clarice descobre na casa em Maresias toda a sua sexualidade.Com o mesmo João que deu o primeiro beijo perde a virgindade. Aos dezesseis se sente mulher e não mais menina.
Por detrás do sorriso alegre do pai, o Arquiteto, se esconde um homem triste, apesar do sucesso profissional ele se sente fracassado como marido.Vive tentando resgatar seu casamento com a mulher, mas não sabe muito bem como fazer.Já teve alguns casos, inclusive trouxe uma delas, Berenice, para a casa em Maresias.Foi quando a mulher e os filhos viajaram para a Flórida nas férias de Julho.Um outro segredo da casa de Maresias.O caseiro Silvio fingiu que não viu.O arquiteto depois do final de semana deixou cem reais debaixo da porta dele.Silvio entendeu o recado.
Os gêmeos Mauro e Murilo viviam tentando chamar a atenção, queriam conquistar seu espaço e a consideração dos pais nessa família cheia de conflitos ocultos e que eles ainda não entendiam. O casal trabalhava demais e pouco participava da educação dos dois. Era a babá Jussara que cuidava deles.Jussara ainda com seus dezoito anos tinha vindo do interior de Minas, da cidade de Monte Carmelo, direto para São Paulo.No inicio foi um choque pra ela ter saído de uma cidade pequena e pacata com quinze anos para uma metrópole como São Paulo.Sua tia Maria trabalhava com a família do casal por mais de vinte anos e quando a baba antiga pediu demissão depois que ficou grávida ela indicou sua sobrinha.A menina sempre falava que queria sair da casa dos pais para conhecer o “mundo”.Mas o que encontrou era bem maior do que sua cabeça imaginava.Cuidar dos gêmeos não era fácil, eles tinha uma natureza bastante indócil, pareciam sempre irritados, mas aos poucos elas foi se adaptando a eles e conquistando a confiança e o gosto da patroa, a psicóloga.Até então nunca tinha namorado, aliás, Jussara era virgem quando chegou a São Paulo.A psicóloga sugeriu que ela estudasse para terminar o ensino médio que ela havia abandonado algum tempo antes.Matriculada num curso supletivo conheceu muitos rapazes e esses rapazes se interessaram por ela.O primeiro, foi Hercílio, trabalhador da construção civil.Mataram aula, tomaram cervejas no bar da esquina da escola noturna.Por nunca ter bebido Jussara ficou logo bêbada.O rapaz reparando que ela estava “tonta” a convenceu a ir ao seu apartamento, duas quadras dali só.Na verdade era uma república daqueles que trabalhavam na construção de um prédio.Hercílio foi cuidadoso com ela, não deixou ninguém se aproximar, trancou a porta para ter privacidade.
Ele mesmo nem reparou que ela era virgem, depois de alguns beijos a penetrou, mesmo sendo homem bruto, foi com carinho, porque ela era “branquinha” e isso pra ele inspirava cuidados.Quase não saiu sangue.Jussara mesmo “tonta” sabia exatamente o que estava fazendo.E gostou muito.Tanto que depois conheceu Gilson.Com ele foi num domingo, dia de sua folga.Estudaram nos banquinhos para uma prova de matemática.Mas as pernas de Jussara foram enlouquecendo aquele homem, que mesmo sendo casado, transou com ela atrás das árvores o lá no Parque do Carmo.Depois foi a vez do Wellington, moço tímido, mas que foi seduzido por ela.Welligton era ajudante de jardineiro do prédio onde Jussara morava como babá.Enquanto levava os gêmeos para brincar no playground, ficava paquerando o rapaz.Um dia enquanto Murilo e Mauro corriam no gramado resolveu se aproximar e puxar papo.Mesmo tímido o rapaz retribui.Dia após dia, ela com a calma de uma raposa, foi se aproximando do cara.Até que veio umas férias dos gêmeos.Naquele final de ano o arquiteto e a psicóloga iriam levar a família toda para passar o natal e o ano novo em Nova Iorque. Então deram férias para todos empregados, sua tia Maria e ela podiam viajar para Monte Carmelo e passar as festas com a família.Mas Jussara não quis, preferiu ficar em São Paulo mesmo, “fazer o quê lá naquele fim de mundo”, pensou.A verdade é que queria mesmo Wellington.
Sozinha naquele imenso apartamento que mais se parecia um palacete, conseguiu atrair o rapaz para lá. Passariam a noite de natal juntos. Ele subiu pelas escadas até o décimo - oitavo andar, por causa das câmeras nos elevadores. Jussara vestiu as roupas da patroa, a psicóloga, seus brincos, seus colares, seu tamanco e um vestido de seda. Usou sua calcinha, seu sutiã, seu perfume, seu xampu e até seu esmalte. Transou com Wellington na mesma calma que a Psicóloga e o Arquiteto faziam amor e pediu que o ajudante de jardineiro usasse a mesma cueca e o mesmo roupão que seu patrão, o Arquiteto usava.

Um comentário:

Eduardo Santos Serafim disse...

Sinceramente, gostei deste Blog, do seu conteúdo e dos seus principios.

Felicito-o e digo: continue.

Um abraço. Eduardo